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Editoriais
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Fraudes contra a ciência
Dois casos rumorosos de má
conduta puseram em evidência a
necessidade de vigiar de perto a
pesquisa científica, em especial
quando financiada com verbas
públicas. O mais recente envolve
Marc Hauser, da Universidade
Harvard (EUA), renomado pesquisador das origens da moral no homem e noutros primatas.
A universidade concluiu, após
três anos de investigação, que
Hauser é culpado em oito casos de
má conduta, dos quais não se conhecem os detalhes. A acusação
abrange de deslizes menores a
fraudes com dados.
O Painel Intergovernamental
sobre Mudança do Clima (IPCC)
também se viu envolvido, no final
de 2009, em acusações análogas.
Erros localizados em um influente
relatório de 2007 terminaram reconhecidos e corrigidos, mas só
após intensa pressão.
Bem mais graves eram as suspeitas levantadas por mensagens
eletrônicas trocadas por climatologistas do IPCC, no chamado "climagate". Haveria ali, na correspondência furtada e vazada, indicações de que manipulavam dados e boicotavam estudos dos
cientistas céticos quanto ao papel
da atividade humana no aquecimento global. Três comitês independentes inocentaram os cientistas das acusações mais pesadas.
As últimas conclusões são aguardadas para o final deste mês.
Com a maior relevância da ciência, multiplicaram-se também as
recompensas -na forma de verbas e prestígio- e a competição.
Na falta de resultados, alguns resvalam para graus variados de traição ao imperativo da verdade. Nos
EUA, investigaram-se oficialmente 217 casos em 2009.
Seria ingênuo supor que fenômeno similar não esteja em curso
no Brasil. Instituições de pesquisa
já deram mostras de que relutam
em investigar a fundo e de forma
transparente os poucos casos que
vêm à tona, como plágios detectados na maior delas, a USP.
Agências estatais de fomento
como CNPq, Capes e Fapesp (para
citar as mais destacadas) deveriam tomar a frente e criar equipes
para investigar, por amostragem,
a qualidade dos dados e conclusões dos estudos que financiam.
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