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PISO ANTIMENDIGO
Preocupa o modo como a Prefeitura de São Paulo pretende
mudar aspectos visuais da cidade.
Com repentes retóricos que roçam o
ideário higienista do século 19, o poder público deu início à instalação de
rampas antimendigos em passagem
subterrânea sob a avenida Paulista.
As autoridades esperam que a inclinação e o chapiscado da argamassa,
que tornará o piso áspero e incômodo, desencorajem moradores de rua
de permanecer no local.
Espaços sob os viadutos e as pontes da cidade são evidentemente impróprios à moradia. São áreas insalubres e que levam riscos ao "morador" e à coletividade. Não foram
poucos os incêndios que ocorreram
em construções públicas por conta
desse tipo de ocupação. A prefeitura,
contudo, defende a obra afirmando
que ela irá diminuir os assaltos na região e o número de pessoas que ficam ali cheirando cola. Não ofereceu, porém, estatísticas que demonstrem a existência do problema.
Números da polícia sugerem exatamente o contrário. A violência na região da avenida Paulista está caindo.
De acordo com o Infocrim (o sistema
informatizado de registro de ocorrência da polícia), os roubos a transeuntes contabilizados entre janeiro
e maio de 2005 caíram 82% quando
comparados a igual período de 2004.
O problema de práticas como essa
é que, se não forem acompanhadas
de um programa social de premissas
mais generosas e objetivos mais ambiciosos, elas apenas mascaram a ignomínia social, sem contribuir para
reduzi-la. E, ao menos na explicação
de motivos que a prefeitura fez à reportagem da Folha, não se nota nenhuma preocupação que transcenda
a idéia de afastar dali a pobreza, tratada como classe "perigosa".
É inútil expulsar os mendigos de
uma área se eles vão procurar outras
pontes. No máximo, as autoridades
conseguem "limpar" alguns cartões
postais. Mais e melhores abrigos,
mais profissionais trabalhando na
rua para convencer essa população a
usar esses abrigos são elementos que
devem sempre acompanhar políticas
como essa.
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