São Paulo, sábado, 24 de setembro de 2005

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PISO ANTIMENDIGO

Preocupa o modo como a Prefeitura de São Paulo pretende mudar aspectos visuais da cidade. Com repentes retóricos que roçam o ideário higienista do século 19, o poder público deu início à instalação de rampas antimendigos em passagem subterrânea sob a avenida Paulista. As autoridades esperam que a inclinação e o chapiscado da argamassa, que tornará o piso áspero e incômodo, desencorajem moradores de rua de permanecer no local.
Espaços sob os viadutos e as pontes da cidade são evidentemente impróprios à moradia. São áreas insalubres e que levam riscos ao "morador" e à coletividade. Não foram poucos os incêndios que ocorreram em construções públicas por conta desse tipo de ocupação. A prefeitura, contudo, defende a obra afirmando que ela irá diminuir os assaltos na região e o número de pessoas que ficam ali cheirando cola. Não ofereceu, porém, estatísticas que demonstrem a existência do problema.
Números da polícia sugerem exatamente o contrário. A violência na região da avenida Paulista está caindo. De acordo com o Infocrim (o sistema informatizado de registro de ocorrência da polícia), os roubos a transeuntes contabilizados entre janeiro e maio de 2005 caíram 82% quando comparados a igual período de 2004.
O problema de práticas como essa é que, se não forem acompanhadas de um programa social de premissas mais generosas e objetivos mais ambiciosos, elas apenas mascaram a ignomínia social, sem contribuir para reduzi-la. E, ao menos na explicação de motivos que a prefeitura fez à reportagem da Folha, não se nota nenhuma preocupação que transcenda a idéia de afastar dali a pobreza, tratada como classe "perigosa".
É inútil expulsar os mendigos de uma área se eles vão procurar outras pontes. No máximo, as autoridades conseguem "limpar" alguns cartões postais. Mais e melhores abrigos, mais profissionais trabalhando na rua para convencer essa população a usar esses abrigos são elementos que devem sempre acompanhar políticas como essa.


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