|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARLOS HEITOR CONY
A polícia e o ladrão
RIO DE JANEIRO - Muito se tem falado em ética, transparência e, sobretudo, em "sociedade". Decepcionada
com a vida pública em seus diversos
escalões, é natural que haja choro e
ranger de dentes de todos nós. Guardadas as exceções de praxe, tudo parece contaminado pela corrupção e
pelo crime.
Há pelo menos dois meses, governo,
partido no poder, Câmara dos Deputados, algumas instituições bancárias
e previdenciárias, empresas de telefonia etc. estão sendo investigadas como pasto de escândalos.
Eu sempre me pergunto: que sociedade é esta? Uma legião de vestais, de
cidadãos incorruptíveis, transparentes, éticos? Tenho minhas dúvidas.
Tudo o que está acontecendo revela a
"falta de uma âncora moral" -frase
de Antônio Callado em sua última
entrevista, dois dias antes de morrer.
Ele falou em "âncora moral", e não
em "âncora ética", que é outra coisa.
Atualmente, não se fala em moral,
que caiu em descrédito, os moralistas
a corromperam. Prefere-se falar em
ética, invoca-se ética, cobra-se ética
dos outros. Lembro a definição de
Voltaire para a ética: "É aquilo que
nós queremos que os outros não façam".
O caso mais espantoso desta semana que acaba foi o roubo do dinheiro
guardado na Polícia Federal do Rio.
No momento crítico que atravessamos, questiona-se o Executivo, o Legislativo e até mesmo o Judiciário (14
juízes do Trabalho foram afastados
por irregularidades aqui no Rio).
A Polícia Federal, no início, no
meio ou no fim de cada caso, é o órgão público que legalmente prova ou
nega os delitos privados ou públicos.
Investiga telefonemas, contas bancárias, documentos comprometedores,
envio de dinheiro para o exterior,
tráfico de drogas e armas.
Há gente limpa e honesta em seus
quadros. Mas a mecânica que ela
adota, como instituição, é quase sempre suspeita. Além de outros casos no
passado, tivemos agora um episódio
que, explicado ou não, revela que
não sabemos mais quem é polícia e
quem é ladrão.
Texto Anterior: Brasília - Fernando Rodrigues: O baixo clero vive Próximo Texto: Luciano Mendes de Almeida: Mobilização pela vida Índice
|