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FERNANDO RODRIGUES
Um delírio lulista
BRASÍLIA - Lula discursou ontem
na ONU. A relevância dessa cerimônia é nula. Exceto para os acólitos e
familiares presenteados com um
passeio por Nova York.
A fala lulista incluiu a já conhecida ladainha sobre reforma do Conselho de Segurança e combate à fome. O brasileiro também esteve
prestes a classificar o capitalismo
brasileiro como melhor do que o
norte-americano -usando o discurso juvenil segundo o qual tudo
se resolve com política.
Até aí, está no preço. Lula é Lula.
Só uma afirmação perdida no texto
presidencial continha uma dose extra de panglossianismo. Ao regozijar-se pela situação econômica, disse que tudo se deu com o "fortalecimento da democracia, com intensa
participação popular".
Identificar "intensa participação
popular" no Brasil é uma licença
poética. É ínfimo o envolvimento
dos brasileiros na construção de
instituições mais fortes e sólidas.
Para ficar num exemplo, a conexão
dos cidadãos com os partidos políticos é inexistente, abúlica -aliás, todas as siglas são apenas ações entre
amigos, ou grupo de amigos rachados, como o PSDB paulista.
Os petistas vão reclamar. O PT é
um "partido popular", dirão. Faz
até prévias em algumas disputas. É
verdade, embora com inserção
marginal na sociedade.
Eis um dado concreto. Lula se
reelegeu em 2006 com 58,2 milhões de votos. Declarou ter recebido dinheiro de 1.624 doadores. Neste ano, nos EUA, o democrata Barack Obama já registrou 2,2 milhões de doadores individuais. O republicano John McCain contabiliza 730 mil contribuintes. Tudo na
democracia de mercado com os palpiteiros criticados por Lula.
O petista talvez se encante com a
classe média viajando para Miami
ou comprando bugiganga chinesa
nos camelôs. Esses, certamente
aprovam Lula. Mas não têm nada a
ver com "participação popular".
frodriguesbsb@uol.com.br
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