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Do golpe à aventura
Nada é unívoco na crise em Honduras, agravada pela presença do líder deposto Manuel Zelaya na embaixada brasileira
A CRISE política em Honduras alcança novos
patamares de tensão
com a presença do presidente deposto, Manuel Zelaya,
na embaixada brasileira em Tegucigalpa -onde se encontra
abrigado desde segunda-feira.
A embaixada está cercada por
forças militares. Cortaram-se
suas comunicações telefônicas.
Organizações não-governamentais levam mantimentos às dezenas de pessoas apinhadas no local -que, conforme as convenções internacionais, constitui
território brasileiro soberano.
A suspensão imediata do cerco
acrescenta mais um item relevante ao conjunto de condições
apresentadas pela comunidade
internacional para superar-se o
isolamento em que se encontra o
atual governo hondurenho.
As forças golpistas, entretanto,
resistem a qualquer concessão.
O governo Micheletti rejeitou a
proposta de acordo apresentada
por Oscar Arias, presidente da
Costa Rica e Prêmio Nobel da
Paz, que previa a volta de Zelaya
ao poder, num governo de conciliação nacional, com anistia a todos os envolvidos na crise. Esse
continua sendo o melhor caminho para superá-la.
Todavia, não são as resistências do atual governo o único fator de agravamento da situação.
Nada é unívoco no quadro hondurenho, e as atitudes de Zelaya
não correspondem em absoluto
ao papel de mártir da democracia que lhe tem sido atribuído.
Zelaya tentou aplicar, contra
uma cláusula pétrea da Constituição de seu país, o modelo chavista da permanência no poder,
viabilizada por plebiscito popular. Naquela altura, já estava em
curso a campanha para a sucessão presidencial -em que seu
candidato tinha poucas chances
de vencer.
A tentativa de tumultuar o processo democrático -vale dizer,
de golpe plebiscitário- foi condenada pelo Congresso e barrada
na Corte Suprema. Roberto Micheletti, presidente do Congresso, assumiu conforme a linha sucessória estabelecida pela Constituição -já que o vice-presidente havia renunciado para concorrer nas eleições, marcadas para
29 de novembro. Foi o ato abusivo de expulsar Zelaya do país,
"manu militari", que configurou
a ilegitimidade do atual governo.
A partir de então, o justificado
repúdio internacional ao golpe
propiciou a Zelaya ocasiões para
exercer, como nunca, o aventureirismo tumultuário que culmina em seu peculiar "asilo" na embaixada brasileira. De asilo político, a rigor, não se trata: o presidente deposto não se refugiou na
embaixada para proteger-se da
perseguição de seus inimigos,
mas sim para retornar a seu país,
contando com uma tribuna privilegiada para inflamar os seus
correligionários.
Se às autoridades brasileiras
cabe protestar contra o cerco da
embaixada, é também imperativo que se definam de pronto as
condições para a estada de Zelaya. Ele precisa ser impedido de
servir-se do espaço brasileiro como um palanque, dando novo
combustível a uma crise que já
ameaça desaguar num surto de
violência civil.
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