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São Paulo, sexta-feira, 24 de outubro de 2003

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PALPITE INFELIZ

A despeito dos seguidos cortes na taxa básica de juros, que passou nos últimos meses de 26,5% para os atuais 19%, os valores cobrados no crédito permanecem excessivamente elevados. Segundo dados da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), os juros médios ao consumidor encontram-se em 153,50% ao ano. A taxa do cheque especial é de 180,3%. A do empréstimo pessoal oferecido por bancos está em 103%, e os juros cobrados pelo comércio giram em torno de 106% ao ano.
Diante dessa realidade, causa espanto a declaração do ministro do Planejamento, Guido Mantega, ao tentar relativizar as recomendações feitas pelo vice-presidente da República, José Alencar, sobre compras a crédito. Disse o vice: "As pessoas não podem aceitar os juros que pagam, não podem comprar a prazo ou buscar recursos em bancos com a taxa de juros na altura em que está". A essa observação, extremamente sensata, o ministro Mantega procurou responder afirmando que os juros ao consumidor já caíram em algumas situações e que "valeria a pena voltar a comprar a crédito".
Ora, as linhas especiais criadas pelo governo podem ter taxas melhores, mas ainda assim são altas. Uma pessoa de baixa renda que consiga obter R$ 200 emprestados numa instituição pública, a juros de 2% ao mês, estará pagando, ao final de um ano, cerca de R$ 52 de juros. Não se trata, obviamente, de desprezar os esforços para oferecer melhores condições creditícias em bancos oficiais. É forçoso, porém, reconhecer que são opções extremamente restritas e ainda desvantajosas se o consumidor tiver a opção de poupar ou de pagar à vista. Num país em que os consumidores em geral não se preocupam com as taxas, mas com o tamanho da prestação em relação aos demais gastos pessoais, seria mais correto e adequado se o ministro seguisse o vice e recomendasse toda cautela nas compras a crédito.


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