São Paulo, sexta-feira, 24 de outubro de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Me engana que eu gosto
ROBERTO LUIS TROSTER
A história econômica brasileira é rica em exemplos de cenários análogos, em que a prodigalidade dos governos limitou o nosso crescimento. Mudam os atores e o tempo, mas a trama é idêntica: há um aumento de gastos, num primeiro momento, que incentiva uma reativação localizada da atividade econômica e uma sensação de um Estado forte; todavia, num segundo momento, a dívida cresce demasiadamente, os juros reais sobem, a reativação produtiva é abortada e o país entra em crise. Todas as tentativas anteriores de retomar o crescimento fracassaram por descontroles fiscais. Planos econômicos, inflação, desvalorizações, arrochos salariais e recessões são todos sintomas indesejados da mesma enfermidade: endividamentos irresponsáveis. Não podemos repetir erros do passado. Temos a oportunidade de crescer de forma sustentada -para isso é necessário baixar o piso das taxas de juros reais. Atualmente, as taxas de juros básicas estão em 19% ao ano e caindo; devemos terminar este ano com juros básicos de 17%; o ano vindouro, com 14%. Com isso, o crédito ao setor privado deve aumentar 15% em 2004 e ser o propulsor da economia brasileira, que crescerá 3,5%. É um bom desempenho se comparado com o dos anos anteriores, mas é pouco quando contrastado com o nosso potencial, que nos permite ambicionar mais, muito mais. Há uma visão de que existe um patamar dos juros reais da ordem de 10% no Brasil. Isso é corroborado com a experiência das últimas décadas. Esse piso seria um limitador de nosso crescimento, entretanto não é resultado de alguma condição estrutural da nossa economia, mas sim do fato de o Estado brasileiro ter sido um devedor crônico. Em algumas ocasiões no passado, até usou de confiscos e moratórias para administrar seus passivos. Um passado que não devemos perpetuar. É premente uma contenção no endividamento público. O controle do déficit fiscal não deve ser visto como uma meta indesejada com critérios flexíveis e discutíveis, mas como um compromisso imutável com nosso desenvolvimento. Um aperto fiscal coloca a dívida pública num círculo virtuoso, com risco declinante, e abre espaço para baixar o patamar de juros reais e expandir o crédito ao setor privado. É fato: necessitamos de um Estado forte para crescer, mas um Estado forte não é um Estado endividado e esbanjador. Argumentos contrários enganam. Roberto Luis Troster, 53, professor titular do Departamento de Economia da PUC-SP, autor de "Economia do Setor Público" (Saraiva), é o economista-chefe da Febraban. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: José Carlos Aleluia: Retrato em preto e branco Índice |
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