São Paulo, segunda-feira, 24 de outubro de 2011

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Escalada protecionista

Congresso dos EUA ameaça aprovar novo pacote de subsídios agrícolas; antes de retaliar, Brasil precisa contestar a medida

O Congresso dos Estados Unidos parece prestes a aprovar um novo pacote de subsídios agrícolas que distorcem o comércio mundial.
O projeto de lei do senador republicano John Thune e do democrata Sherrod Brown substituiria o atual programa de subsídios, que destina cerca de US$ 5 bilhões por ano a produtores americanos de algodão, milho, soja e trigo.
Se aprovada, a lei será uma dupla derrota: primeiro, porque substitui o atual programa, que não distorce o mercado, por um pacote que deve deprimir os preços mundiais de commodities, prejudicando exportadores como o Brasil. Em segundo lugar, porque vai jogar fora a oportunidade de cortar desperdício de dinheiro em um momento em que os EUA tentam reduzir o deficit do seu orçamento.
É apenas o mais recente capítulo da escalada do protecionismo no mundo em meio à crise financeira.
Em 2009, os líderes mundiais do G20, grupo das 20 maiores economias do planeta, prometeram evitar uma repetição da guerra das tarifas dos anos 1930, que aprofundou a Grande Depressão. Desde então, o protecionismo só aumentou.
Segundo relatório divulgado pela União Europeia, foram adotadas 424 medidas protecionistas desde o início da crise. Só em 2011, foram 131. E os governos do G20 são responsáveis por 80% delas.
O Itamaraty acompanha "com muita preocupação" a tramitação do projeto Brown-Thune. O pacote vai contra a decisão da Organização Mundial do Comércio no contencioso do algodão, no qual o Brasil saiu vitorioso.
Esse não é, todavia, o único motivo para alerta em relação a lances protecionistas nos EUA. Em seus planos de estímulo econômico desde 2008, os norte-americanos têm incluído cláusulas "Buy American", com exigência de conteúdo mínimo nacional para compras governamentais.
Infelizmente, o Brasil não está em posição de passar sermões. As credenciais do país como promotor do livre-comércio saíram arranhadas depois do aumento do IPI para veículos importados, que já é questionado pela Coreia do Sul e pelo Japão na OMC -e acaba de sofrer uma derrota parcial no Supremo, que adiou a entrada em vigência da medida para a segunda quinzena de dezembro.
Não é o caso de o Brasil colocar-se ingenuamente diante da escalada do protecionismo e da concorrência desleal. Tem de reforçar seu sistema de defesa comercial, ainda deficiente, lento e pouco equipado, apesar de melhorias recentes.
No entanto ignorar as regras multilaterais e arrolar o protecionismo mundial como pretexto para defender, sem contrapartida, setores domésticos ineficientes, como se fez com o IPI, não é solução.
Não é hora de render-se a pressões paroquiais por protecionismo, mas, sim, de aprimorar as armas de que o Brasil dispõe para lutar de acordo com as regras do jogo multilateral.



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