São Paulo, quarta, 24 de dezembro de 1997.



Próximo Texto | Índice

COVAS, A POLÍCIA E O MEDO

A chamada gangue da batida praticamente monopolizou o noticiário policial em dezembro. O tema foi transformado numa espécie de emblema da atmosfera de insegurança que se instaurou em São Paulo. É preciso, no entanto, não se deixar ofuscar pelo compreensível terror que o caso suscitou para avaliar como vai a segurança na cidade.
Apesar da prisão de dois suspeitos -reconhecidos por dezenas de vítimas-, o problema da criminalidade permanece exasperante. Pior: as autoridades responsáveis, o governador Mário Covas à frente, não parecem ter mobilizado energia suficiente para tentar ao menos minorá-lo.
É até razoável supor que a pesquisa do Datafolha publicada ontem, na qual a segurança pública em São Paulo é tida como ruim ou péssima por 57% dos entrevistados, reflita uma "insatisfação momentânea" da população, como quer o secretário José Afonso da Silva. Em abril deste ano, o índice dos que reprovavam a polícia era de 45%.
Isso não significa, porém, que o governo possa usar a repercussão pública desse episódio como álibi para sua letargia. Covas entra em seu último ano de mandato sem uma política clara de combate ao crime. Demorou três anos para substituir a cúpula da PM, apesar de admitir que tinha a sensação de que a polícia o sabotava. Num lapso revelador, disse há poucos meses que a polícia se tornara ingovernável. A seguir, completou: "Se eu vencer uma outra eleição, isso muda". Parece ter esquecido de que foi eleito para este mandato.
Hoje as estatísticas o condenam. Até outubro havia crescido cerca de 20% o número de vítimas de roubo ou assalto na Grande São Paulo. Diante disso o governo solicitou, mais uma vez tardiamente, um plano de atuação unificada das polícias Civil e Militar. Aguardam-se ainda os seus resultados, mas, desde já, é forçoso reconhecer que tal medida tem sabor de paliativo. Ainda se espera de Covas uma resposta à escalada da violência. Mas se espera até quando?



Próximo Texto | Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.