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COVAS, A POLÍCIA E O MEDO
A chamada gangue da batida praticamente monopolizou o noticiário
policial em dezembro. O tema foi
transformado numa espécie de emblema da atmosfera de insegurança
que se instaurou em São Paulo. É preciso, no entanto, não se deixar ofuscar pelo compreensível terror que o
caso suscitou para avaliar como vai a
segurança na cidade.
Apesar da prisão de dois suspeitos
-reconhecidos por dezenas de vítimas-, o problema da criminalidade
permanece exasperante. Pior: as autoridades responsáveis, o governador Mário Covas à frente, não parecem ter mobilizado energia suficiente para tentar ao menos minorá-lo.
É até razoável supor que a pesquisa
do Datafolha publicada ontem, na
qual a segurança pública em São Paulo é tida como ruim ou péssima por
57% dos entrevistados, reflita uma
"insatisfação momentânea" da população, como quer o secretário José
Afonso da Silva. Em abril deste ano, o
índice dos que reprovavam a polícia
era de 45%.
Isso não significa, porém, que o governo possa usar a repercussão pública desse episódio como álibi para
sua letargia. Covas entra em seu último ano de mandato sem uma política clara de combate ao crime. Demorou três anos para substituir a cúpula
da PM, apesar de admitir que tinha a
sensação de que a polícia o sabotava.
Num lapso revelador, disse há poucos meses que a polícia se tornara ingovernável. A seguir, completou:
"Se eu vencer uma outra eleição, isso muda". Parece ter esquecido de
que foi eleito para este mandato.
Hoje as estatísticas o condenam.
Até outubro havia crescido cerca de
20% o número de vítimas de roubo
ou assalto na Grande São Paulo.
Diante disso o governo solicitou,
mais uma vez tardiamente, um plano
de atuação unificada das polícias Civil e Militar. Aguardam-se ainda os
seus resultados, mas, desde já, é forçoso reconhecer que tal medida tem
sabor de paliativo. Ainda se espera de
Covas uma resposta à escalada da
violência. Mas se espera até quando?
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