|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RUY CASTRO
A eterna sedução
RIO DE JANEIRO - Quer dizer
que 2009 será o ano da França no
Brasil? Foi bom terem avisado. A
presença da cultura francesa diminuiu tanto entre nós que arrisca já
não haver um brasileiro menor de
60 anos que saiba quem foram Marcel Pagnol, Martine Carol ou Jean
Sablon -nomes que, no passado,
eram da intimidade até das crianças
de peito.
E não só. Para cada bistrozinho
francês que fecha no Rio, abrem-se
dez restaurantes italianos, todos
iguais. Livres de poche nas livrarias
não tem mais, só pocket books. O
fecho éclair deu lugar ao zíper; o
rouge, ao blush. O Paissandu, templo da velha Nouvelle Vague, continua fechado. E ninguém mais toca
"Tout va très bien, Madame la marquise" nas aulas de piano.
Já foi diferente. Em seus mais de
500 anos como território ocupado
pelos brancos, o Rio falou francês
antes que português. Os primeiros
franceses a chegar por aqui, em
1504, deram-se bem com as tupinambás. Muitos nunca voltaram
para a Europa. Jogaram a roupa fora, instalaram-se no que depois seriam as praias da Lapa e do Flamengo, e até aderiram à antropofagia.
A "França Antártica", filial da
França nos trópicos que o almirante Villegagnon tentou implantar na
ilha hoje ocupada pela Escola Naval, só gorou por causa das brigas
religiosas entre seus colonos. Mas,
enquanto durou, de 1555 a 1565,
avançou terra adentro, produziu bilíngües e rendeu um dicionário
franco-tupi. Donde, antes dos aterros, as pistas do atual aeroporto
Santos-Dumont eram águas francesas.
Em 1711, o Rio foi tomado pelo
corsário Duguay-Trouin; no século
19, por uma legião de cocotes e modistas; em 1964, por Brigitte Bardot.
Diante deles, sempre nos deixamos
conquistar docilmente. Agora é a
vez do casal Sarkozy-Carla Bruni.
Ele veio a negócios; mas o negócio
da França é a sedução.
Texto Anterior: Brasília - Fernando Rodrigues: 11 vezes crise Próximo Texto: Mário Magalhães: O almirante negro Índice
|