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O ranking da Unesco
Relatório do organismo da ONU destoa de índices nacionais sobre ensino; Ideb indica avanços no período considerado
A QUALIDADE da educação básica no Brasil
não vai bem, todos sabem. Mas é inegável
que nos últimos anos houve progresso no que se refere ao acesso
e à permanência no ensino primário. Atingiu-se a virtual universalização, com a chegada às
carteiras escolares das mais pobres entre as crianças pobres.
O mais recente ranking da
Unesco, contudo, indica um retrocesso. A edição de 2010 do
"Relatório de Monitoramento
Global - Educação para Todos"
rebaixou a educação brasileira
do 76º para o 88º lugar na classificação geral.
Como a informação combina
com a percepção geral de baixa
qualidade do ensino, circulou
sem a necessária consideração
crítica. O demônio, porém, se
oculta nos detalhes. E, nos compêndios estatísticos lançados à
mancheia por organizações multilaterais como a Unesco, os detalhes estão nos componentes
dos indicadores usados na classificação e nas notas explicativas,
que pouca gente lê.
O ranking se baseia em dados
referentes a 2007 e num índice
composto de quatro subindicadores: atendimento no ensino
fundamental, taxa de alfabetização de adultos, igualdade entre
meninos e meninas no acesso à
escola e proporção de alunos que
completam a quarta série -a "taxa de sobrevivência".
Foi este quarto componente o
principal fator a fazer o Brasil
cair 12 posições. Segundo a
Unesco, a "taxa de sobrevivência" teria baixado de 80,5% para
75,6%. Considerado só este subindicador, a posição do país seria ainda mais baixa (103ª). Uma
nota explicativa minúscula na
página 362 do relatório revela,
porém, que o dado é de 2004.
Em comunicado, o Ministério
da Educação (MEC) ressalvou a
boa performance do país nos primeiros três indicadores, mas não
abordou diretamente a "taxa de
sobrevivência". Limitou-se a assinalar que mudanças no censo
educacional eliminaram a dupla
contagem de alunos, o que resultou numa queda artificial de matrículas de 2006 a 2007, e que a
PNAD indica aumento contínuo
da taxa de frequência líquida na
faixa de 7 a 10 anos -que alcançou 94,6% em 2008.
O Índice de Desenvolvimento
da Educação Básica (Ideb), do
MEC, foi de 3,8 (2005) para 4,2
(2007), ultrapassando a meta
oficial de chegar a 3,9.
O contraste entre os números
indica que talvez seja prudente
confiar mais nos indicadores nacionais para avaliar a evolução da
educação no Brasil. Sejam quais
forem os dados, no entanto, os
avanços no ensino fundamental
já não são suficientes para responder às necessidades imediatas do país.
Pesquisa do Ipea divulgada na
semana passada indicava que,
em 2007, apenas metade dos
10,2 milhões de jovens de 15 a 17
anos cursava o ensino médio ou
já havia concluído essa fase de
estudos. O restante ainda frequentava as séries do ensino fundamental ou já havia abandonado a escola. Sem descuidar das
conquistas nos primeiros anos
de estudo, é aí que devem se concentrar agora as atenções da sociedade e do governo.
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