|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MARINA SILVA
Um fórum pelo mundo
COMEÇA HOJE , em Porto Alegre, mais uma edição do Fórum Social Mundial. Em dez
anos de existência, muita coisa mudou pelo planeta. Ataque do 11 de
Setembro, Guerra do Iraque, crise
financeira mundial, Obama, Lula,
ascensão dos Bric, fortalecimento
da agenda ambiental e, ao mesmo
tempo, agravamento da crise planetária expressa nas mudanças climáticas. Mas, em todo esse tempo,
o espaço multicêntrico de poder e
conhecimento que é o FSM teve
um papel sinalizador e criou uma referência.
"Um outro mundo é possível",
avisava, de pronto, o ousado movimento, que, de Porto Alegre, fazia
ecoar a voz de atores políticos e sociais envolvidos com as mais variadas causas, estabelecendo um contraponto com o Fórum Econômico Mundial, que se realiza anualmente em Davos, na Suíça.
Nesse tempo, o FSM foi ganhando estatura e correu o mundo. Agora retorna a Porto Alegre como um
espaço já consolidado e descentralizado do debate livre da sociedade
civil global, lembrando a cada ano
que as grandes questões contemporâneas não são monopólio do
poder econômico ou do poder de
Estado. Elas são pensadas, sentidas
e compartilhadas fora das regras
excludentes das vontades hegemônicas, sem direcionamento e sem
donos, demonstrando que há uma
fonte poderosa de energia de onde
pode emergir um mundo melhor, mais justo e equilibrado.
Talvez o principal produto dessa
energia seja a visibilidade dada à
necessidade de aperfeiçoar os mecanismos de participação na democracia representativa, como forma,
inclusive, de renová-la e reconectá-la urgentemente com a sociedade.
Não se trata de desconstituir Davos. Mas, mais do que nunca, é preciso afirmar que os problemas do
mundo não são apenas da conta de
um pequeno grupo de atores políticos e econômicos. Assim como o
G7 hoje tem menos peso ante o
G20, que inclui os países emergentes, e reconhece sua força, Davos e
seu modo economicista de ser já
reconheceu a força do ponto de vista socioambiental e a perspectiva
de direitos humanos que são a alma do FSM.
Lá estarei uma vez mais. Para ouvir, trocar e debater, como é o espírito do Fórum. Não com a pretensão de chegarmos a um detalhado e
generalizado consenso sobre os
melhores caminhos para a política
e a sociedade. Mas com a certeza de
que muitos consensos se formarão
e gerarão ações, compromissos, articulações e atitudes convergentes
em todo o mundo. E muitos dissensos ficarão evidentes, o que é bom
para avançar na direção de uma sociedade mais generosa, plural, capaz de dividir e de conviver com a
discordância.
contatomarinasilva@uol.com.br
MARINA SILVA escreve às segundas-feiras nesta
coluna.
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Ruy Castro: Maestro piador Próximo Texto: Frases
Índice
|