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CARLOS HEITOR CONY
Lula e Collor
RIO DE JANEIRO - O encontro
de Lula com Collor no gabinete presidencial espantou e irritou a muitos, que consideraram exibição de
cara-de-pau dos dois, uma vez que
foram adversários e um deles, Collor, foi varrido da Presidência sob
sérias acusações de corrupção.
Apesar de ter seus direitos políticos cassados, o Supremo o absolveu
por falta de provas, levando em
consideração o clima de exaltação
política da época. De qualquer forma, ele cumpriu sua pena e voltou à
vida pública com um mandato de
senador.
Fez bem em procurar o ex-adversário que, como presidente da República, convidou outros representantes do PTB para o encontro. E
Lula fez bem em não discriminá-lo.
O resto ficou por conta da cordialidade que não faz mal a ninguém.
Afinal, a pena a que Collor foi condenado não era perpétua, que equivaleria a uma pena de morte política.
No crime comum, cumprida a pena, espera-se que o condenado tenha aprendido a lição e seja absorvido pela sociedade, em igualdade
de situação perante outros cidadãos. Na vida prática, costuma haver reincidência, daí que se discute
atualmente uma alteração no Código Penal, abrindo espaço para a pena de morte e para a prisão perpétua. Não é o caso, pelo menos não é
o caso de Collor.
O encontro deixou irritados
aqueles que consideram uma falta
de caráter nacional o seu retorno à
vida pública. Como se a vida pública
fosse constituída de vestais imaculadas. Não vem ao caso citar nomes,
mas, no que diz respeito ao ex-presidente, condenado que foi pelo seu
passado, no presente e no futuro ele
será julgado pelo que agora fizer.
Lula foi, além de adversário de
Collor, um dos líderes da campanha
pelo impeachment. Ao menos neste
episódio, deu sinal de grandeza política e pessoal.
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