São Paulo, quarta-feira, 25 de abril de 2001

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A ALCA NO SEU LUGAR

Foi correto e oportuno o discurso do presidente Fernando Henrique Cardoso reafirmando os quesitos que devem constar do Acordo de Livre Comércio das Américas para que ele possa ser apoiado pelo Brasil. Correto por ter apontado os conteúdos que estão no cerne do impasse entre Brasília e Washington. Oportuno por ter sido proferido em plena Cúpula das Américas, que terminou no domingo em Québec.
O chefe de Estado brasileiro rompeu o tom em regra morno e conciliador dos discursos de seus pares durante o evento na cidade canadense, exceção feita ao exótico presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Se, entre as 34 nações que negociam a Alca, há uma que tem muito a perder com o acordo, é o Brasil, que reúne um mercado interno de grandes proporções e um setor industrial complexo. Esse fato, por si, justifica os posicionamentos mais pragmáticos dos negociadores brasileiros, infelizmente nem sempre observados.
Regras compartilhadas sobre antidumping, redução das barreiras não-tarifárias e do uso protecionista de normas sanitárias, conciliação da propriedade intelectual com a capacitação tecnológica dos países-membros e correção das distorções que fazem do setor agrícola dos países desenvolvidos uma área protegida do comércio externo foram os tópicos citados por FHC.
Está bem resumido aí o núcleo que sintetiza as dificuldades que contrapõem os interesses norte-americanos aos brasileiros.
O discurso de FHC aponta caminhos para superar a estratégia de sempre protelar a Alca, que tem caracterizado a atuação brasileira até aqui. A protelação só faz sentido quando há uma agenda interna a cumprir, no sentido de robustecer a economia e a sociedade brasileiras para um futuro de mais competição. Essa agenda, por sua vez, requer mudanças no modo de negociar acordos de comércio com a finalidade de resguardar espaços para que o desenvolvimento do país não seja prejudicado por interesses que se valem do ideário livre-mercadista.


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