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A ALCA NO SEU LUGAR
Foi correto e oportuno o discurso do presidente Fernando
Henrique Cardoso reafirmando os
quesitos que devem constar do Acordo de Livre Comércio das Américas
para que ele possa ser apoiado pelo
Brasil. Correto por ter apontado os
conteúdos que estão no cerne do impasse entre Brasília e Washington.
Oportuno por ter sido proferido em
plena Cúpula das Américas, que terminou no domingo em Québec.
O chefe de Estado brasileiro rompeu o tom em regra morno e conciliador dos discursos de seus pares
durante o evento na cidade canadense, exceção feita ao exótico presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Se,
entre as 34 nações que negociam a
Alca, há uma que tem muito a perder
com o acordo, é o Brasil, que reúne
um mercado interno de grandes proporções e um setor industrial complexo. Esse fato, por si, justifica os
posicionamentos mais pragmáticos
dos negociadores brasileiros, infelizmente nem sempre observados.
Regras compartilhadas sobre antidumping, redução das barreiras
não-tarifárias e do uso protecionista
de normas sanitárias, conciliação da
propriedade intelectual com a capacitação tecnológica dos países-membros e correção das distorções que
fazem do setor agrícola dos países
desenvolvidos uma área protegida
do comércio externo foram os tópicos citados por FHC.
Está bem resumido aí o núcleo que
sintetiza as dificuldades que contrapõem os interesses norte-americanos aos brasileiros.
O discurso de FHC aponta caminhos para superar a estratégia de
sempre protelar a Alca, que tem caracterizado a atuação brasileira até
aqui. A protelação só faz sentido
quando há uma agenda interna a
cumprir, no sentido de robustecer a
economia e a sociedade brasileiras
para um futuro de mais competição.
Essa agenda, por sua vez, requer mudanças no modo de negociar acordos de comércio com a finalidade de
resguardar espaços para que o desenvolvimento do país não seja prejudicado por interesses que se valem
do ideário livre-mercadista.
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