São Paulo, domingo, 25 de abril de 2004

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SINAIS DO FED

As crescentes evidências de que a economia americana começava a superar os riscos de deflação e se preparava para ingressar em novo ciclo de crescimento despertaram, há alguns meses, especulações de analistas sobre as perspectivas de elevação dos juros no país. Em junho do ano passado, a taxa de curto prazo foi fixada no atual patamar de 1% ao ano. O constante ziguezague dos indicadores, no entanto, ora auspiciosos, ora frustrantes, sugeria que o momento da mudança ainda se encontrava distante, o que era confirmado pelo Federal Reserve, o banco central norte-americano, ao sustentar que as taxas permaneceriam baixas por tempo indeterminado.
No início deste ano, no entanto, pronunciamento do Fed referente à sua reunião de janeiro veio à cena sem a menção ao compromisso de manter os juros em 1% por tempo indefinido. Foi o primeiro sinal. E bastou para que os mercados que trabalham com títulos da dívida de países emergentes se vissem atingidos pelas turbulências de um processo de correção de preços.
Para o Brasil, o baque de janeiro traduziu-se em queda da Bolsa, elevação do risco-país e apreensões sobre uma possível crise financeira. Ficou mais uma vez patente a relação quase direta entre o risco dos títulos brasileiros e a política de juros americana. Como se sabe, a redução das taxas nos EUA e nas principais economias mundiais estimulou o aumento da liqüidez internacional e a procura por papéis de maior risco -como os do Brasil. A mudança desse quadro poderia causar uma brusca reversão dos fluxos de capitais, provocando instabilidade em países mais vulneráveis a movimentos externos -caso notório do Brasil.
Desde janeiro, esses temores passaram a ocupar papel de relevo no debate econômico e levaram instituições globais, como o FMI, a alertar para a necessidade de que os EUA coordenassem as expectativas de modo a suavizar os efeitos colaterais.
É o que vem procurando fazer, com sua reconhecida habilidade e competência, o presidente do Fed, Alan Greenspan. Em recentes declarações no Congresso norte-americano, ele tratou de preparar o terreno para um movimento mais ordenado e previsível das expectativas. Assegurou que a economia norte-americana emergiu, em meados do ano passado de uma alongada fase de baixo crescimento, e avisou que os juros irão, sim, subir em algum ponto do futuro. Até lá, no entanto, ainda há um processo a transcorrer. Se a ameaça da deflação desapareceu, ela não foi substituída pelo risco de aceleração da inflação -algo que para Greenspan ainda "não está no horizonte".
A intervenção do presidente do Fed contribuiu para retirar do ambiente uma dose extra de incerteza que poderia precipitar movimentos perigosos. Isso não significa que, para a economia brasileira, os problemas tenham acabado. As vulnerabilidades persistem e exigem que o país não perca de vista a necessidade de continuar gerando elevados superávits comerciais, de reforçar suas reservas e de promover o crescimento.


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