|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VINICIUS TORRES FREIRE
Bento, Bush e blogs
SÃO PAULO - O mundo, oh, cada vez mais conservador, suspiramos nós ali
pelos 40 ou mais, da última geração
que se interessou por política, diante
de Bento 16, Bush e quejandos.
O mundo é um lugar injusto e mau
como sempre, apesar de vacinas e de
mais bens em toda parte. Nós, que já
não amávamos tanto a revolução,
sabemos porém que o inferno na terra poderia ser algo menor. Mas o que
conservadores de fato conservam?
Gente de 20 anos e pico desconectou-se das sabedorias e do mundo
convencionais. Orbitam no Orkut,
blogs e na música ruim de iPods. "Ficam", mas parecem caretas. Literatura e artes, tais como cultivadas até o
modernismo, lhes são tão estranhas
como entender de heráldica.
Ongueiam em ONGs, mas desdenham a política da polis, que talvez
nem exista mais mesmo, pois vivemos sob impérios, finanças globais ou
armas americanas, poderes que a velha política não sabe enfrentar.
Mas como saber o que sairá deste
caldo? "Conservador" ainda é palavra útil? A política, o Estado, controla
mudanças? O que podemos prever do
mundo acelerado por tecnologias informacionais, financeiras e biológicas? Não previmos nem o desabamento ridículo do comunismo, a letargia do Japão, a virada chinesa, temas de sabedorias convencionais.
Minha filha, oito anos hoje, há meses montou seu blog. Acha o que quer
na internet por meio do Google, apesar da ortografia ainda caoticamente
infantil. Aos seis anos, explicava que
casais de homens têm de adotar filhos porque não têm vagina e útero
para gerar crianças. Já pediu piercing
e celular, obviamente negados.
Não teve educação religiosa, mas
desde os cinco anos se dizia "católico-judeusa" ("judeusa" por causa de
amigos da escola e as duas fés porque
"somos todos irmãos"). Teme seqüestros. Acha exótica e chata minha infância sem DVDs e computador.
Gosta do "Picapau Amarelo", mas
na TV (em que dona Benta usa e-mail!).
Numa tabuleta suméria de 5.000
anos (está no Louvre), alguém já se
queixava dos jovens e de como o
mundo ficava pior. Tudo verdade?
Talvez. Só mais rápido, decerto.
Texto Anterior: Editoriais: INCERTEZA NOS EUA Próximo Texto: Brasília - Fernando Rodrigues: Revisão constitucional Índice
|