São Paulo, segunda-feira, 25 de abril de 2005

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TENDÊNCIAS/DEBATES

O MoMA e as artes no Brasil

MILÚ VILLELA

O Brasil recebe nesta semana a visita do Conselho Internacional do MoMA, o Museu de Arte Moderna de Nova York. Formado por colecionadores do mundo todo, o grupo desembarca no país para conhecer um pouco mais da arte brasileira e visitar instituições, ateliês e coleções particulares, numa iniciativa que remonta à tradição de colaboração e intercâmbio iniciada pelo MoMA na década de 40.
Poucos sabem, mas o MoMA teve um papel importantíssimo na cena cultural brasileira. Nelson Rockefeller, quando ocupava a presidência do museu que hoje é um dos ícones da cultura norte-americana, esteve no Brasil em 1946, participando das discussões iniciais da fundação dos museus de arte moderna de São Paulo e do Rio de Janeiro.


Fui buscar justamente no MoMA a referência para readequar a gestão do MAM a uma nova realidade cultural no país


Na capital paulista, o magnata americano, amante das artes, filantropo de primeira grandeza na comunidade empresarial americana, reuniu-se com intelectuais brasileiros na Biblioteca Municipal, naquele que seria um dos primeiros encontros de gestação do MAM.
Seu apoio foi decisivo para a fundação do museu. Além de fornecer os estatutos e o modelo de funcionamento do MoMA como referência, Rockefeller fez a doação das primeiras obras que viriam a integrar o acervo do museu no início de sua existência, logo após a fundação da instituição por Ciccillo Matarazzo -obras essas que, por circunstâncias históricas, foram absorvidas pelo acervo do Museu de Arte Contemporânea (MAC-USP).
O interesse do MoMA na criação de museus de arte moderna no Brasil se insere no contexto da Guerra Fria. O objetivo de estabelecer zonas de influência se estendeu ao campo das artes, daí o envolvimento da instituição americana nesse processo. Como relata a estudiosa Maria Cecília França Neto, havia a preocupação de disseminar a arte moderna, em particular o abstracionismo, para combater o realismo socialista propagado pelos artistas que atuavam atrás da Cortina de Ferro. Mas a relação do MoMA não se limitou ao campo da mera intenção ideológica. Com o tempo, o museu distanciou-se dos objetivos geopolíticos e se consolidou como uma fonte de referência para ações culturais do mundo todo, seguindo sua vocação natural. No Brasil, teve particular influência na gestão do Museu de Arte Moderna de São Paulo.
Há dez anos, quando assumi a presidência do MAM, fui buscar justamente no MoMA a referência para readequar a gestão do museu a uma nova realidade cultural no país. Dali trouxemos a idéia de criar uma matriz eficiente de captação de recursos para o museu e a intenção de transformar a instituição num centro de formação de novos públicos. A partir das idéias discutidas nos bastidores desse que é um dos maiores museus dos EUA, criamos as lojas do MAM, instalamos o restaurante do museu (ampliando a área de convivência), abrimos o auditório para a realização de sessões de cinema e espetáculos e estabelecemos um programa de captação de recursos para financiamento das atividades da instituição junto a grandes empresas patrocinadoras.
A adoção de modelos estabelecidos no MoMA foram fundamentais para que o MAM enfrentasse os desafios econômicos impostos pela realidade brasileira ao longo dos últimos anos.
Desde que passou a se inspirar no modelo criado por essa notável instituição cultural da "Big Apple", o MAM viu seu público saltar de 10 mil, em 1994, para 215 mil visitantes no ano passado. O número de crianças e adolescentes recebidos no museu para visitas monitoradas cresceu 2.000% no mesmo período. O número de sócios pessoas físicas saltou de 40, em 1994, para cerca de mil em 2004. Os sócios pessoas jurídicas, que eram apenas quatro uma década atrás, hoje formam um corpo de uma centena de empresas que atuam como colaboradoras ativas do museu.
Com esta visita do Conselho Internacional do MoMA ao Brasil, essa parceria que já produziu tantos frutos sai renovada. O ciclo de encontros que está sendo conduzido nestes dias, as visitas ao nosso acervo cultural, os encontros com personalidades, artistas e intelectuais certamente vão ajudar a ampliar a visibilidade da arte brasileira junto ao público americano.
Mais que isso. A visita do Conselho Internacional do MoMA certamente contribuirá para o processo de construção da imagem do Brasil junto a personagens influentes dos mercados mais importantes do mundo, o que é auspicioso nestes tempos em que estamos fazendo um esforço extraordinário para atrair capitais e abrir novas fronteiras de negócios.

Milú Villela, 58, empresária, é embaixadora da boa vontade da Unesco e presidente do Faça Parte - Instituto Brasil Voluntário, do MAM (Museu de Arte Moderna de São Paulo) e do Instituto Itaú Cultural.
@ - presidencia@mam.org.br



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