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NELSON MOTTA
O ano em que a bossa acabou
RIO DE JANEIRO - Há 50 anos,
um cantor, uma canção e um disco
mudavam a história da música brasileira: com a revolucionária gravação de "Chega de saudade", João
Gilberto dava forma e conteúdo à
bossa nova, inventando um novo
ritmo e uma nova forma de cantar e
tocar violão. O resto é história, que,
como um rio de muitos afluentes,
deságua no mar de nossa memória
pessoal e coletiva.
Com o sucesso de João Gilberto,
se revelavam a maestria de Antonio
Carlos Jobim e o talento dos jovens
compositores que criavam a nova
música. De 1959 a 1962, João Gilberto lançou três LPs históricos, e a
bossa nova virou moda. Os jovens
enchiam as academias de violão para aprender a nova batida e as músicas que seriam a trilha sonora dos
Anos JK.
Todos queriam embarcar no bonde do sucesso. A publicidade e a imprensa adoraram o rótulo. JK foi
chamado, com justiça, de presidente bossa nova. Surgiram o carro
bossa nova, o apartamento bossa
nova, o terno bossa nova, com um
paletó e duas calças. Tudo virou
bossa nova no Brasil provinciano.
Velhos cantores da Radio Nacional
gravavam bossa nova para tentar
surfar na onda do sucesso. Até Vicente Celestino lançou sua versão,
operística e bombástica, da prosaica "O pato", que o minimalismo de
João Gilberto havia transformado
em clássico.
Em busca da reciclagem redentora, tudo que havia de mais velho se
dizia bossa nova. Quando até a antiga UDN, denuncista e golpista, tinha a sua "bancada bossa nova" na
Câmara, era o sinal final de que a
bossa nova tinha acabado no Brasil.
Em 1962, ninguém queria mais
saber dela, a nova geração engendrava a futura MPB, o país fervia
com Jango e Brizola. Mas, felizmente, os grandes músicos do jazz
americano a descobririam e levariam para o mundo e para a glória.
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