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CLÓVIS ROSSI
Ciro e o rebuliço artificial
SÃO PAULO - Só pode ser pela fraqueza até agora do debate eleitoral
que causou "frisson" jornalístico a
transformação de Ciro Gomes em
maionese, conforme a perfeita análise de Vera Magalhães, editora de
Brasil desta Folha.
O que quer que Ciro diga ou faça
não pode ser tomado pelo seu valor
de face. Primeiro, porque tem compulsão pela mentira tola.
Lembra-se da campanha de
2002, quando disse que havia estudado a vida toda em escolas públicas, e era mentira? Segundo, porque já vinha se transformando em
maionese nas pesquisas, o que dá
pouco peso ao que diga ou faça, ainda que seja verdade.
Lula se acha todo-poderoso?
Sim, se acha. Mas já se achava
quando mandou Ciro transferir seu
título eleitoral para São Paulo, na
perspectiva de ser candidato ao governo, e Ciro obedeceu mansamente. Só agora se lembrou de avisar
que a candidatura seria um desrespeito a São Paulo (nem acho que seria, mas ou já era antes ou não pode
ser só agora).
Dilma é menos preparada que
Serra? Talvez sim, talvez não. Só a
prova da maionese, digo do pudim,
é que o demonstrará (alusão, para
quem não sabe, a um velho ditado
inglês segundo o qual só pode se saber se o pudim é bom ou ruim depois de prová-lo).
Mas qual é a autoridade de Ciro
para decretar quem é melhor que
quem? Na campanha de 2002, Ciro
dizia que um eventual governo Lula
seria uma aventura. Lula ganhou, e
Ciro embarcou na "aventura",
transformando-se em ministro.
Nada impede, portanto, que,
amanhã ou depois, Ciro Gomes
aceite um convite para ser ministro
de uma presidenta que ele considera menos preparada.
Enfim, o impacto que a desistência de Ciro e o eventual uso na campanha de seu conhecido destempero terão a consistência e o prazo de
validade de uma maionese.
Ou seja, um dia ou dois.
crossi@uol.com.br
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