|
Próximo Texto | Índice
BELETRISMO ALARMISTA
Delírio histórico é a expressão que melhor resume as
considerações do ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo (PC do
B-SP), sobre a CPI dos Correios.
Até prova em contrário, estamos
diante de uma crise política que, por
mais ruidosa e grave que se afigure,
está longe de constituir uma ameaça
de ruptura institucional. O ministro,
entretanto, preferiu ver nas reações
ao escândalo uma conjura de forças
dispostas a depor o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva.
Mais do que isso, Rebelo afirmou
que essas forças malignas "são as
mesmas que desde o início da República quiseram derrubar o governo
do presidente Floriano Peixoto sem
sucesso, tentaram contra o presidente Getúlio Vargas, contra Juscelino
[Kubitschek], contra o presidente Jânio Quadros, João Goulart...".
Intérprete privilegiado do materialismo histórico, Rebelo também explicou por que alguns parlamentares
de esquerda assinaram o requerimento da CPI: "Nesses movimentos,
quando a direita tenta desestabilizar
governos democraticamente eleitos
e não aceita seu êxito e seu sucesso,
setores da esquerda funcionam como linha auxiliar desse processo de
desestabilização".
O beletrismo histórico de Rebelo, a
que se resumiu o fracassado projeto
comunista defendido por sua agremiação, pode agradar a alguns veteranos "progressistas", mas de maneira nenhuma apresenta um contexto verossímil para a atual crise.
Apenas adiciona-lhe mais uma dose
de irracionalidade e alarmismo.
Ninguém duvida de que Lula seja o
governante legítimo, e só um néscio
diria que ele não chega ao fim de seu
mandato. Apostadores sensatos
vêem, na realidade, boas chances de
que seja reeleito. Quanto à oposição,
faz o que o PT fazia no passado: criar
o máximo de ônus político para a administração federal na expectativa de
extrair dividendos eleitorais.
Como observou o escritor Paul Valéry (1871-1945): "A história justifica
o que se quer justificar. Ela não ensina nada a rigor, pois contém tudo e
dá exemplo de tudo". Quando se tem
uma imaginação como a de Rebelo,
então, o delírio não conhece limites.
Próximo Texto: Editoriais: BONDADES ELEITORAIS Índice
|