São Paulo, sexta-feira, 25 de junho de 2004

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FARMÁCIAS ELEITORAIS

No que já configura uma verdadeira gincana de populismo, o governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin acaba de lançar seu programa de distribuição de medicamentos. Às vésperas da convenção tucana que indicará José Serra para concorrer à Prefeitura de São Paulo, o correligionário Alckmin criou, na capital, o Farmácia Dose Certa. Serão dez postos em estações do metrô que dispensarão gratuitamente 40 tipos de remédio a usuários do sistema público de saúde.
O Farmácia Dose Certa vem apenas duas semanas depois do Farmácia Popular, que é o nome do programa federal de venda subsidiada de medicamentos. Não por acaso, a rede criada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva se concentra em São Paulo, onde a prefeita petista Marta Suplicy tentará a reeleição.
Em comum, ambos os projetos partilham, além do caráter demagógico, a total inconveniência. No contexto do SUS, remédios devem ser distribuídos gratuitamente nas farmácias de postos de saúde e de hospitais nos quais o paciente é atendido. Fora daí, entra-se no território do marketing eleitoral. Prova-o a própria escolha do local onde o governo do Estado pretende montar suas bancas: o metrô. Não se trata tanto de facilitar a vida do doente, que, para obter a receita médica, necessariamente passa por um posto de saúde ou hospital, mas de mostrar serviço para as centenas de milhares de pessoas que se utilizam diariamente da malha metroviária.
A essa altura, a população já se acostumou a ser regalada com benfeitorias de diversos calibres às vésperas de eleições. Em algum grau, isso faz parte da própria dinâmica das democracias. Todo administrador tende a mostrar realizações perto e não longe dos pleitos. A fronteira entre a iniciativa legítima e a apenas populista pode ser traçada a partir dos rudimentos da lógica. Quando a proposta encerra algum sentido econômico ou social, é aceitável, mas não quando ela nada acrescenta além de visibilidade para o governante. No caso das farmácias eleitorais, infelizmente nenhuma delas passa pelo teste da consistência.


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