São Paulo, domingo, 25 de junho de 2006

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CLÓVIS ROSSI

1984 chegou

FRANKFURT - Minuciosa reportagem do "New York Times" mostra que o governo Bush está monitorando movimentações financeiras internacionais.
O governo alega que só pesca movimentos de supostos terroristas ou organizações terroristas. Acredita quem quer. O fato é que pelo consórcio bancário ("Swift") que mantém a base de dados passam operações no valor de US$ 6 trilhões diariamente (7,5 vezes mais do que todo o valor da economia brasileira de um ano, o de 2005).
Some-se ao monitoramento financeiro outra história revelada pelo "NYT", a do "grampo" telefônico sem autorização judicial, e tem-se um cenário "Big Brother", o do livro "1984", de George Orwell. Pior: justamente no país que se orgulha de ser campeão das liberdades civis.
Operações do gênero já foram praticadas no passado. Mas ninguém nos EUA ligava muito, porque serviam para desestabilizar governos de países subdesenvolvidos e, ainda por cima, de esquerda. Truques baixos do tipo ajudaram a derrubar, por exemplo, o governo constitucional e legítimo de Salvador Allende, no Chile, e a instalar uma ditadura selvagem.
Tem muito brasileiro que se diz liberal, mas aplaude até hoje a vilania e a tirania daquela época.
O mais grave é que os Estados Unidos difundem moda em tudo -ou em quase tudo. Governos com baixo respeito pelas regras -e deixo a você a tarefa de listar quais deles, na América Latina- sentir-se-ão tentados a copiar o "Big Brother", ainda mais que sabem que, no subcontinente, os contrapesos ao Executivo funcionam mal ou, muitas vezes, nem funcionam.
Ah, o governo Bush também acusa o jornal por divulgar fatos. Versão manjadíssima da idiotia da teoria da conspiração, muita conhecida ao sul do rio Grande.


@ - crossi@uol.com.br


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