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CLÓVIS ROSSI
Fora Sarney é pouco
FRANKFURT - Atos secretos,
funcionários secretos, secretamente contratados e demitidos e, agora,
uma conta secreta, como se houvesse um Senado do "b" funcionando
ali no Planalto Central.
Anteontem, enquanto escrevia
um texto sobre os escândalos envolvendo o primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi, trombei
com um comentário de Edmondo
Berselli, do jornal "La Repubblica",
que falava em "prostituição do
regime".
Pensei: bom, no Brasil ainda não
chegamos a tanto. Mas, no caso do
Senado, talvez já seja a hora de repensar. O descontrole foi longe demais. Ou melhor, o que já se sabe
sobre a Casa foi longe demais, mas,
pelo andar da carruagem, ainda pode-se chegar bem mais longe.
E, convenhamos, o movimento
"fora Sarney", que se esboça no próprio Senado e, com muito mais força, em setores da opinião pública,
não é a solução. A rigor, se Sarney
deixar a presidência, pode até saciar
a sede de sangue de parte do público, mas acabará sendo apenas o bode que se tira da sala.
O problema do Senado vai muito,
muito, muito além de Sarney. Envolve todas as Mesas Diretoras dos
últimos muitos anos e, ao menos indiretamente, envolve todos os senadores que as elegeram -o que
significa que devem sobrar dois ou
três, se tanto, não maculados, seja
por ação, seja por omissão.
A única maneira de enfrentar o
escândalo é chamar a Polícia Federal e o Ministério Público para fazer
uma varredura completa nesse aparelho clandestino que apenas por
inércia chamamos de Senado. Ah, é
bom lembrar, como fez ontem Fernando Rodrigues, que a Câmara
não é muito melhor, não.
Não me venham, por favor, com
violação da Constituição, respeito a
um outro poder etc. O Senado caiu
na clandestinidade. Clandestinos,
ainda mais quando fazem trambiques com dinheiro público, são alvo
da polícia necessariamente.
crossi@uol.com.br
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