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FRUSTRAÇÃO NOS JUROS
Timidez ou mediocridade? A dúvida é inevitável ao avaliar a decisão do
Banco Central de reduzir as taxas de
juros em percentual menor que o esperado pelo mercado financeiro.
As taxas caíram de 22% para 21% ao
ano, quando era forte a expectativa
de que os juros chegassem a 20%.
A dívida líquida do setor público no
mercado é da ordem de R$ 370 bilhões (65% atrelados ao mercado
aberto). Segundo estimativas privadas, até agosto vencem cerca de R$
100 bilhões. A cautela redobrada do
BC, num momento de concentração
de vencimentos, vai gerar custos
mais elevados para o Tesouro.
Mas a dificuldade na rolagem dos
papéis públicos não é função apenas
do seu volume ou da sua concentração no tempo. Ela também reflete a
confiança do mercado na capacidade
que o governo tem de fazer o ajuste
fiscal. Essa capacidade, por sua vez, é
condicionada por fatores políticos. E
é precisamente nesse terreno que o
governo FHC tem dado mostras de
fragilidade, para dizer o menos.
A cautela nos juros tem poucas justificativas econômicas. O governo
aponta a crise na Argentina e um cenário de alta nos juros externos.
Ora, não se abandonou a âncora
cambial para acelerar a redução dos
juros e aceitar a desvalorização se as
condições de financiamento externo
eventualmente se deteriorassem?
Não ficava evidente que fatores domésticos, como a inflação, seriam
decisivos? Hoje há deflação, o que seria motivo para acelerar a queda dos
juros. Mas sempre resta a justificativa de que é preciso cautela.
Tanta cautela custa muito ao Tesouro e ao país. Talvez ela reflita uma
nova timidez do BC. Mas talvez seja
algo pior. Talvez seja a consciência,
no BC, de que o governo continua incapaz de ajustar suas contas ou de
deixar a economia crescer sem uma
nova onda de financiamento externo.
Nesse caso, a cautela parece expressar uma evolução frustrante do Brasil
na política e na economia.
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