São Paulo, Sexta-feira, 25 de Junho de 1999
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FRUSTRAÇÃO NOS JUROS

Timidez ou mediocridade? A dúvida é inevitável ao avaliar a decisão do Banco Central de reduzir as taxas de juros em percentual menor que o esperado pelo mercado financeiro.
As taxas caíram de 22% para 21% ao ano, quando era forte a expectativa de que os juros chegassem a 20%.
A dívida líquida do setor público no mercado é da ordem de R$ 370 bilhões (65% atrelados ao mercado aberto). Segundo estimativas privadas, até agosto vencem cerca de R$ 100 bilhões. A cautela redobrada do BC, num momento de concentração de vencimentos, vai gerar custos mais elevados para o Tesouro.
Mas a dificuldade na rolagem dos papéis públicos não é função apenas do seu volume ou da sua concentração no tempo. Ela também reflete a confiança do mercado na capacidade que o governo tem de fazer o ajuste fiscal. Essa capacidade, por sua vez, é condicionada por fatores políticos. E é precisamente nesse terreno que o governo FHC tem dado mostras de fragilidade, para dizer o menos.
A cautela nos juros tem poucas justificativas econômicas. O governo aponta a crise na Argentina e um cenário de alta nos juros externos.
Ora, não se abandonou a âncora cambial para acelerar a redução dos juros e aceitar a desvalorização se as condições de financiamento externo eventualmente se deteriorassem?
Não ficava evidente que fatores domésticos, como a inflação, seriam decisivos? Hoje há deflação, o que seria motivo para acelerar a queda dos juros. Mas sempre resta a justificativa de que é preciso cautela.
Tanta cautela custa muito ao Tesouro e ao país. Talvez ela reflita uma nova timidez do BC. Mas talvez seja algo pior. Talvez seja a consciência, no BC, de que o governo continua incapaz de ajustar suas contas ou de deixar a economia crescer sem uma nova onda de financiamento externo.
Nesse caso, a cautela parece expressar uma evolução frustrante do Brasil na política e na economia.



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