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Malogro na OMC
Intransigência dos ricos
suspende negociações
para reduzir barreiras ao
comércio mundial; risco é
a fragmentação de regras
A RODADA Doha de negociações multilaterais
de comércio no âmbito
da Organização Mundial do Comércio (OMC), lançada na capital do Qatar em 2001,
foi suspensa. Os países do G6
-Austrália, Brasil, Índia, Japão,
União Européia e Estados Unidos-, que respondem por três
quartos do comércio global, não
chegaram a um acordo sobre a
redução dos subsídios agrícolas.
O malogro dessas discussões
complica o cenário futuro dos
acordos multilaterais devido ao
vencimento em julho de 2007 do
mecanismo constitucional
("fast-track") que concede autorização à Presidência dos EUA
para negociar acordos sobre comércio, que podem ser aceitos
ou rejeitados sem alterações.
O grande obstáculo a essas negociações provém do fato de os
EUA e a UE não aceitarem uma
redução de suas barreiras tarifárias e não-tarifárias às importações de produtos agrícolas. Para
isso, eles requerem dos países
em desenvolvimento uma significativa abertura nos produtos
industrializados e serviços. Os
EUA possuem tarifa média sobre
produtos industrializados de
3,2%; a UE, de 4%. Eles pretendem "nivelar o campo de jogo",
condicionando as negociações
agrícolas a uma redução das tarifas de produtos industriais dos
países em desenvolvimento.
Todavia, para concluir a Rodada Uruguai (1993), os países em
desenvolvimento aceitaram a
promessa dos desenvolvidos de
uma maior abertura dos mercados agrícolas e de produtos intensivos em trabalho em troca da
criação da OMC e de um conjunto de novas regras sobre subsídios, antidumping, serviços, direito de propriedade etc. A promessa não foi cumprida. Agora,
os países em desenvolvimento
estão sendo coagidos a realizar
novas concessões em bens industriais, sendo que os possíveis
ganhos em termos de acesso aos
mercados dos produtos agrícolas
dos países desenvolvidos seriam
muito limitados.
De acordo com a OMC, as subvenções governamentais totais à
agricultura, indústria e serviços
podem superar US$ 1 trilhão por
ano, valor equivalente a 4% do
PIB global. A definição de subsídios não é consensual entre os
diferentes países. De todo modo,
em proporção da renda nacional,
os países desenvolvidos recorrem mais a essas práticas do que
as nações em desenvolvimento.
Numa amostra com 31 países
em desenvolvimento, a ajuda governamental representou, em
média, 0,6% do PIB. Entre 22 nações ricas, o percentual alcançou
1,4% do PIB. A ajuda do governo
brasileiro somava 1,8% das despesas públicas, o equivalente a
0,3% do PIB, no período 1998-2002. Na Índia, as subvenções
chegaram a 21% das despesas públicas; na China, a 5,7%.
Há muito está evidente que as
nações desenvolvidas precisam
avançar em suas propostas de
abertura dos mercados agrícolas
se pretendem retomar as negociações multilaterais. O efeito da
suspensão da Rodada de Doha
pode ser a proliferação de acordos bilaterais e regionais de comércio, fragmentando ainda
mais as normas e as regras sobre
o comércio internacional.
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