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SERGIO COSTA
Não fosse tudo tão trágico
RIO DE JANEIRO - Um acidente
aéreo é uma das maiores notícias
que há. De uma forma ou de outra,
mexe com todos: os que viajam
sempre a trabalho, os que viajam às
vezes em férias e os que nunca
voam -mas vivem a ver e ouvir
aqueles reluzentes e barulhentos
objetos mais pesados do que o ar
cortando céus sobre suas cabeças.
Especialistas surgem de todo lado. Reverso vira discussão no jantar
e a eloqüência inoportuna de ministros (seja nos gestos como nas
palavras) ocupa o ar vazio nas discussões de boteco. Para tudo há explicações, versões, soluções, culpados, inocentes e incompetentes.
O inacreditável é que, concorrendo com a dor e a comoção, os absurdos dos absurdos se sucedam.
Ou faz algum sentido ter um posto com depósito de gasolina no fim
de uma pista mais curta do que o
desejável para jatos pesados? Isso
no aeroporto mais movimentado
do país, localizado no centro de São
Paulo, e que não tem nem sequer
área de escape para emergências.
É surreal a discussão sobre se um
avião pode voar por aí sem um de
seus freios -no caso, o tal do reverso- em funcionamento? Como assim, sem um dos freios????
Aí descobre-se que mandaram
para os EUA uma caixa-preta errada, uma peça qualquer achada em
meio aos escombros do avião sem
freio que explodiu ao lado do posto
de gasolina no fim da pista curta.
Dá para acreditar que, após obras
de reparos, Congonhas foi liberado
sem umas tais ranhuras que ajudam a escoar água e conter jatos
obrigados a aterrar em menos de
dois quilômetros? Não dá. Mas uma
semana depois, descobre-se que a
pista não havia nem sequer sido
testada com chuva. Na primeira
água, um jatinho derrapou. Na seguinte, deu no que deu. Na última, a
cabeceira se desmanchou em lama.
Pensando bem, matéria mais que
apropriada para as circunstâncias.
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