São Paulo, quarta-feira, 25 de julho de 2007

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SERGIO COSTA

Não fosse tudo tão trágico

RIO DE JANEIRO - Um acidente aéreo é uma das maiores notícias que há. De uma forma ou de outra, mexe com todos: os que viajam sempre a trabalho, os que viajam às vezes em férias e os que nunca voam -mas vivem a ver e ouvir aqueles reluzentes e barulhentos objetos mais pesados do que o ar cortando céus sobre suas cabeças.
Especialistas surgem de todo lado. Reverso vira discussão no jantar e a eloqüência inoportuna de ministros (seja nos gestos como nas palavras) ocupa o ar vazio nas discussões de boteco. Para tudo há explicações, versões, soluções, culpados, inocentes e incompetentes.
O inacreditável é que, concorrendo com a dor e a comoção, os absurdos dos absurdos se sucedam.
Ou faz algum sentido ter um posto com depósito de gasolina no fim de uma pista mais curta do que o desejável para jatos pesados? Isso no aeroporto mais movimentado do país, localizado no centro de São Paulo, e que não tem nem sequer área de escape para emergências.
É surreal a discussão sobre se um avião pode voar por aí sem um de seus freios -no caso, o tal do reverso- em funcionamento? Como assim, sem um dos freios????
Aí descobre-se que mandaram para os EUA uma caixa-preta errada, uma peça qualquer achada em meio aos escombros do avião sem freio que explodiu ao lado do posto de gasolina no fim da pista curta.
Dá para acreditar que, após obras de reparos, Congonhas foi liberado sem umas tais ranhuras que ajudam a escoar água e conter jatos obrigados a aterrar em menos de dois quilômetros? Não dá. Mas uma semana depois, descobre-se que a pista não havia nem sequer sido testada com chuva. Na primeira água, um jatinho derrapou. Na seguinte, deu no que deu. Na última, a cabeceira se desmanchou em lama.
Pensando bem, matéria mais que apropriada para as circunstâncias.


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