São Paulo, domingo, 25 de julho de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

EMÍLIO ODEBRECHT

O Brasil e o Mercosul

O compromisso brasileiro com a integração regional tem sido uma prioridade de todos os governos que tivemos, desde 1985, quando Brasil e Argentina afastaram anos de desconfianças mútuas para dar início a um amplo programa de cooperação.
Ao olhar para nossa geografia, entendemos por que isso faz sentido. O Brasil tem fronteiras com nove países (além do território ultramarino francês da Guiana) e dimensões equivalentes a quase metade de todo o subcontinente.
A floresta amazônica é compartilhada com sete vizinhos. Centro da maior bacia hidrográfica do mundo, o rio Amazonas é brasileiro, mas também é peruano. A maior usina hidrelétrica do país, Itaipu, fica na fronteira com o Paraguai e sua administração é compartilhada entre os dois países.
Somos brasileiros, mas nosso destino é sul-americano.
Nesse contexto e no conjunto de iniciativas no rumo dessa integração, destaca-se o Mercosul, criado em 1991. Formado inicialmente por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, o bloco deu um importante passo rumo ao norte com a aprovação, no ano passado, da entrada da Venezuela.
Hoje, o Mercosul é fundamental para a economia brasileira. Uma análise fria dos números de nosso comércio exterior comprova isso. Em 1989, o Brasil teve um deficit na sua balança comercial com a Argentina de US$ 811 milhões.
No ano passado, 20 anos depois, o superavit brasileiro no bloco foi de US$ 2,7 bilhões. Isso não significa que não temos ainda muita coisa a fazer e a aperfeiçoar.
Por exemplo: atualmente o Mercosul tem um PIB de aproximadamente US$ 2 trilhões, sendo que cerca de 75% desse valor correspondem ao Brasil.
É natural que essa assimetria cause desconfortos, especialmente nas duas economias menores, Paraguai e Uruguai.
Trabalhar pela redução dessas assimetrias por meio do aproveitamento das complementaridades econômicas regionais é uma oportunidade que nosso país tem de se consolidar como ator geopolítico mundial e de obter do exercício desse papel benefícios impulsionadores do crescimento de todos.
Aos dividendos econômicos deve-se agregar a melhora no padrão de nosso relacionamento com os vizinhos, fator que contribui para a preservação da democracia na região.
Por essas razões, entendo que a integração regional deve ser tratada, sempre, como uma política de Estado, suprapartidária, legitimada pela sociedade brasileira -política lastreada na ideia de o Brasil se reconhecer e agir como âncora de uma plataforma institucional voltada para a estabilidade política e para o desenvolvimento socioeconômico dos países sul-americanos.


EMÍLIO ODEBRECHT escreve aos domingos nesta coluna.

emilioodebrecht@uol.com.br


Texto Anterior: Rio de Janeiro - Luiz Fernando Vianna: Manoel foi pro céu
Próximo Texto: TENDÊNCIAS/DEBATES
Roberto Abdenur: Brasil-Irã: como fazer amigos e dar-se mal

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.