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EMÍLIO ODEBRECHT
O Brasil e o Mercosul
O compromisso brasileiro
com a integração regional tem
sido uma prioridade de todos
os governos que tivemos, desde 1985, quando Brasil e Argentina afastaram anos de
desconfianças mútuas para
dar início a um amplo programa de cooperação.
Ao olhar para nossa geografia, entendemos por que isso
faz sentido. O Brasil tem fronteiras com nove países (além
do território ultramarino francês da Guiana) e dimensões
equivalentes a quase metade
de todo o subcontinente.
A floresta amazônica é compartilhada com sete vizinhos.
Centro da maior bacia hidrográfica do mundo, o rio Amazonas é brasileiro, mas também é peruano. A maior usina
hidrelétrica do país, Itaipu, fica na fronteira com o Paraguai
e sua administração é compartilhada entre os dois países.
Somos brasileiros, mas nosso
destino é sul-americano.
Nesse contexto e no conjunto de iniciativas no rumo dessa integração, destaca-se o
Mercosul, criado em 1991. Formado inicialmente por Brasil,
Argentina, Paraguai e Uruguai, o bloco deu um importante passo rumo ao norte com
a aprovação, no ano passado,
da entrada da Venezuela.
Hoje, o Mercosul é fundamental para a economia brasileira. Uma análise fria dos números de nosso comércio exterior comprova isso. Em 1989, o
Brasil teve um deficit na sua
balança comercial com a Argentina de US$ 811 milhões.
No ano passado, 20 anos depois, o superavit brasileiro no
bloco foi de US$ 2,7 bilhões. Isso não significa que não temos
ainda muita coisa a fazer e a
aperfeiçoar.
Por exemplo: atualmente o
Mercosul tem um PIB de aproximadamente US$ 2 trilhões,
sendo que cerca de 75% desse
valor correspondem ao Brasil.
É natural que essa assimetria
cause desconfortos, especialmente nas duas economias
menores, Paraguai e Uruguai.
Trabalhar pela redução dessas assimetrias por meio do
aproveitamento das complementaridades econômicas regionais é uma oportunidade
que nosso país tem de se consolidar como ator geopolítico
mundial e de obter do exercício desse papel benefícios impulsionadores do crescimento
de todos.
Aos dividendos econômicos deve-se agregar a melhora
no padrão de nosso relacionamento com os vizinhos, fator
que contribui para a preservação da democracia na região.
Por essas razões, entendo
que a integração regional deve
ser tratada, sempre, como
uma política de Estado, suprapartidária, legitimada pela sociedade brasileira -política
lastreada na ideia de o Brasil
se reconhecer e agir como âncora de uma plataforma institucional voltada para a estabilidade política e para o desenvolvimento socioeconômico
dos países sul-americanos.
EMÍLIO ODEBRECHT escreve aos domingos
nesta coluna.
emilioodebrecht@uol.com.br
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