São Paulo, segunda-feira, 25 de julho de 2011

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RUY CASTRO

Sherlock vs. Yard

RIO DE JANEIRO - Telegramas do exterior a respeito do feio envolvimento da Scotland Yard no escândalo dos grampos do tabloide de Rupert Murdoch, "News of the World", falam de como isso abalou a "reputação de eficiência e lisura" da famosa polícia inglesa, "celebrada em ficção por sir Arthur Conan Doyle [1859-1930], criador do detetive Sherlock Holmes".
Os telegramas erraram. Das 60 aventuras de Holmes (56 contos e quatro romances), escritas por Conan Doyle entre 1887 e 1927, a Scotland Yard comparece em 40, e sempre de forma desastrada. Em todas, os principais inspetores da Yard -o arrogante Lestrade, o mais humilde Gregson, Hopkins, Bradstreet e outros menos votados-, confrontados, um de cada vez, com o gênio de Holmes, parecem um bando de patetas, incapazes de resolver um caso mesmo que tropecem no criminoso.
Em "Um Estudo em Vermelho", Holmes só falta dizer a Lestrade e Gregson que o bandido que eles procuram é mais inteligente do que a força policial inteira de Londres -aliás, ele diz isto. Há tiradas parecidas em todo o cânone sherlockiano, além de inúmeras passagens em que Holmes, mal chegado à cena do crime, já enxerga a solução que lhe parece óbvia, a qual nem passa pela cabeça dos inspetores.
É por isso que, sempre com relutância, eles batem à porta do 221-B da Baker Street para se consultar com Holmes. E não perdem a esperança de que, um dia, as teorias do detetive se provem erradas, e eles consigam vencê-lo na elucidação de algum mistério. O que, claro, nunca acontece.
Mas, neste caso do "News of the World", os homens da Scotland Yard teriam uma chance de pôr Holmes na pista errada. Talvez nem Sherlock imaginasse, de saída, que um dos jornalistas grampeadores, Alex Marunchak, especialista em papéis secretos ucranianos, fosse... funcionário da própria Yard.


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