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MELCHIADES FILHO
A força do mensalão
BRASÍLIA- Da operação mensaleira, só o layout foi desmantelado.
As relações entre Executivo e Legislativo mantêm-se inalteradas no
vício: o governo consegue apoio em
troca de verbas e cargos; os congressistas condicionam o voto às liberações e nomeações. Um é refém
do outro, mas satisfeitos -uma Síndrome de Estocolmo de mão dupla.
A idéia de uma reforma política
geral, que inspirou discursos moralizantes no vácuo da denúncia de
Roberto Jefferson, nunca foi abraçada de verdade. Lula abandonou-a
tão rapidamente que deixou sem fala seus intérpretes no Congresso.
Deputados e senadores agora discutem impor algum tipo de fidelidade aos partidos com a ajuda da
Justiça Eleitoral. Com menos migrações, alegam, ficariam fortalecidos para lidar com o Planalto.
A ameaça de cassar o mandato,
porém, não é suficiente para mudar
o jogo. O vira-casacas poderá apoiar
o governo de dentro da oposição.
Fechará os negócios no plenário.
Dar um cheque em branco às cúpulas partidárias não parece sensato também. Elas se atolaram em escândalos, o do mensalão incluído, e
atuam descomprometidas das bases e estatutos (quando existem).
Não por acaso, o brasileiro se habituou a votar em nomes, não em siglas. É o candidato quem faz discursos, escolhe bandeiras, produz santinhos e paga contas. Mudar a regra
no meio do mandato, aliás, não desrespeitaria esse eleitor?
Por fim, a fidelidade a ferro e fogo
pode amarrar a democracia. Em
1984, a ditadura apegava-se a esse
princípio para emplacar Paulo Maluf no Colégio Eleitoral. Quem liberou a debandada que selou a vitória
de Tancredo Neves foi o TSE, o tribunal que hoje empareda o Congresso com interpretação oposta.
Quisessem conter a fisiologia, Legislativo e Executivo adotariam o
orçamento impositivo. O apelo a
um Judiciário pouco virtuoso para
arbitrar a atuação parlamentar só
tende a causar confusão -sabida
tática da turma do "como está fica".
mfilho@folhasp.com.br
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