São Paulo, segunda-feira, 25 de agosto de 2008

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FERNANDO RODRIGUES

Políticos desconectados

BRASÍLIA - Há 381 mil candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereador neste ano. Nenhum está arrecadando dinheiro eletronicamente por meio da internet. Houve algumas tentativas frustradas, barradas pela burocracia bancária ou por incapacidade de articulação.
A lei no Brasil é omissa, mas o TSE editou a resolução 22.715, em fevereiro deste ano, na qual autoriza os candidatos a receberem doações por meio de "transferência eletrônica". O presidente do TSE, Carlos Ayres Britto, acredita que os políticos poderiam muito bem montar sistemas em seus sites pessoais pelos quais receberiam doações com cartões de crédito ou débito.
"Não vejo problemas desde que o dinheiro fosse depositado na conta específica da campanha, com a identificação plena do doador -como é o caso em transações com cartões magnéticos. É necessário, entretanto, o assunto ser analisado pelo tribunal. É curioso, mas nenhum político nos consultou a respeito até hoje", diz Ayres Britto. É mais do que curioso. Demonstra uma completa desconexão entre os políticos brasileiros e o que se passa no mundo real.
O uso da internet como ferramenta agregadora de eleitores e para financiamento eleitoral equivale a uma revolução na eleição presidencial dos EUA. O democrata Barack Obama já registrou 2 milhões de doadores, a imensa maioria pessoas que doam quantias abaixo de US$ 100 usando seus cartões. Se Obama fosse eleito, hoje seria o presidente dos Estados Unidos cujo financiamento de campanha foi majoritariamente (51%) de pessoas comuns -e não de grandes bancos e corporações.
O político com coragem de pedir dinheiro a seus eleitores se expõe ao escrutínio público. Quem doa certamente vai cobrar. No Brasil, os candidatos parecem preferir cobranças do grande capital em detrimento da maioria do eleitorado.

frodriguesbsb@uol.com.br


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