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FERNANDO RODRIGUES
Políticos desconectados
BRASÍLIA - Há 381 mil candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereador neste ano. Nenhum está arrecadando dinheiro eletronicamente
por meio da internet. Houve algumas tentativas frustradas, barradas
pela burocracia bancária ou por incapacidade de articulação.
A lei no Brasil é omissa, mas o
TSE editou a resolução 22.715, em
fevereiro deste ano, na qual autoriza os candidatos a receberem doações por meio de "transferência eletrônica". O presidente do TSE, Carlos Ayres Britto, acredita que os políticos poderiam muito bem montar sistemas em seus sites pessoais
pelos quais receberiam doações
com cartões de crédito ou débito.
"Não vejo problemas desde que o
dinheiro fosse depositado na conta
específica da campanha, com a
identificação plena do doador -como é o caso em transações com cartões magnéticos. É necessário, entretanto, o assunto ser analisado
pelo tribunal. É curioso, mas nenhum político nos consultou a respeito até hoje", diz Ayres Britto.
É mais do que curioso. Demonstra uma completa desconexão entre
os políticos brasileiros e o que se
passa no mundo real.
O uso da internet como ferramenta agregadora de eleitores e para financiamento eleitoral equivale
a uma revolução na eleição presidencial dos EUA. O democrata Barack Obama já registrou 2 milhões
de doadores, a imensa maioria pessoas que doam quantias abaixo de
US$ 100 usando seus cartões.
Se Obama fosse eleito, hoje seria
o presidente dos Estados Unidos
cujo financiamento de campanha
foi majoritariamente (51%) de pessoas comuns -e não de grandes
bancos e corporações.
O político com coragem de pedir
dinheiro a seus eleitores se expõe
ao escrutínio público. Quem doa
certamente vai cobrar. No Brasil, os
candidatos parecem preferir cobranças do grande capital em detrimento da maioria do eleitorado.
frodriguesbsb@uol.com.br
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