São Paulo, terça-feira, 25 de agosto de 2009

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Editoriais

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Encruzilhada afegã

SE AS eleições no Afeganistão tivessem ocorrido sem denúncias de fraudes, e se a reeleição do presidente Hamid Karzai, anunciada ontem, não estivesse sendo contestada, isso poderia injetar ânimo político na nova fase da campanha militar americana no país, que Barack Obama está para anunciar. Sem esse cenário positivo, ficará mais difícil para o presidente dos EUA vender um plano que prenuncia ocupação prolongada.
Ao herdar a guerra de oito anos, Obama reivindicou a legitimidade da ofensiva contra os terroristas do 11 de Setembro e seus protetores fundamentalistas do Taleban. Mas prometeu objetivos realistas. Em vez de fazer do país que sempre resistiu a invasores e ao poder centralizado um modelo de democracia, disse que se concentraria na erradicação das bases terroristas e na estabilidade, com a possível incorporação ao governo local de setores "moderados" do Taleban.
Ontem, porém, o jornal "The New York Times" relatou que o comando militar americano redobrou queixas sobre insuficiência de soldados, hoje perto dos 60 mil. Um reforço de até 20 mil homens foi solicitado para a nova fase, com o objetivo de manter presença nas áreas das quais o Taleban vier a ser expulso. Obama já muda o tom: fala em ter governo afegão "transparente" e não distingue mais entre Taleban e Al Qaeda.
Além do ceticismo sobre a capacidade estrangeira de criar um Estado afegão funcional, especialistas nos EUA começam a pôr em dúvida o objetivo final da guerra. No Iraque, a retirada gradual é hoje acompanhada da violência decorrente de disputas por poder que só os iraquianos podem resolver. No Afeganistão, teme-se que as bases da Al Qaeda, se erradicadas, voltem quando os EUA saírem, não importa quanto isso demore.
Há o argumento, para muitos mais forte, de que o vizinho e nuclearizado Paquistão poderia cair sob o controle de fundamentalistas se os EUA recuarem na região. Formado por pashtuns, etnia que desconhece a divisa entre os dois países, o Taleban se reagrupou na fronteira e de fato domina vastas áreas. Mas a capacidade do grupo extremista, minoritário, de arrebatar o poder no Paquistão é muitas vezes superestimada.
Não há opção fácil diante de Obama, mas ele nem sequer formulou as metas modestas que prometeu.


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