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Encruzilhada afegã
SE AS eleições no Afeganistão
tivessem ocorrido sem denúncias de fraudes, e se a
reeleição do presidente Hamid
Karzai, anunciada ontem, não
estivesse sendo contestada, isso
poderia injetar ânimo político na
nova fase da campanha militar
americana no país, que Barack
Obama está para anunciar. Sem
esse cenário positivo, ficará mais
difícil para o presidente dos EUA
vender um plano que prenuncia
ocupação prolongada.
Ao herdar a guerra de oito
anos, Obama reivindicou a legitimidade da ofensiva contra os terroristas do 11 de Setembro e seus
protetores fundamentalistas do
Taleban. Mas prometeu objetivos realistas. Em vez de fazer do
país que sempre resistiu a invasores e ao poder centralizado um
modelo de democracia, disse que
se concentraria na erradicação
das bases terroristas e na estabilidade, com a possível incorporação ao governo local de setores
"moderados" do Taleban.
Ontem, porém, o jornal "The
New York Times" relatou que o
comando militar americano redobrou queixas sobre insuficiência de soldados, hoje perto dos 60
mil. Um reforço de até 20 mil homens foi solicitado para a nova
fase, com o objetivo de manter
presença nas áreas das quais o
Taleban vier a ser expulso. Obama já muda o tom: fala em ter governo afegão "transparente" e
não distingue mais entre Taleban e Al Qaeda.
Além do ceticismo sobre a capacidade estrangeira de criar um
Estado afegão funcional, especialistas nos EUA começam a pôr
em dúvida o objetivo final da
guerra. No Iraque, a retirada gradual é hoje acompanhada da violência decorrente de disputas
por poder que só os iraquianos
podem resolver. No Afeganistão,
teme-se que as bases da Al Qaeda, se erradicadas, voltem quando os EUA saírem, não importa
quanto isso demore.
Há o argumento, para muitos
mais forte, de que o vizinho e nuclearizado Paquistão poderia
cair sob o controle de fundamentalistas se os EUA recuarem na
região. Formado por pashtuns,
etnia que desconhece a divisa entre os dois países, o Taleban se
reagrupou na fronteira e de fato
domina vastas áreas. Mas a capacidade do grupo extremista, minoritário, de arrebatar o poder
no Paquistão é muitas vezes superestimada.
Não há opção fácil diante de
Obama, mas ele nem sequer formulou as metas modestas que
prometeu.
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