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CLÓVIS ROSSI
Governabilidade porca
SÃO PAULO - Quem inventou, pelo menos na história recente, esse
modelo porco de governabilidade
que vigora no Brasil foi Fernando
Henrique Cardoso, lembra-se?
Foi ele quem buscou um acordo
com o então PFL, hoje DEM, apesar
de os líderes do PSDB e do pefelê terem estado na calçada oposta desde
sempre.
Na campanha de 1994, durante
um "Roda Viva", apontei ao então
candidato o que me parecia uma
contradição grave. FHC respondeu
com uma falácia, ao citar como
exemplo de aliança entre contrários o fato de que o Partido Socialista e a Democracia Cristã do Chile
governavam em coligação (governam até hoje), embora tivessem sido adversários a vida toda.
É verdade, mas é só metade (ou
menos) da verdade. PS e DC uniram-se já na ditadura -e contra a
ditadura. PSDB e PFL uniram-se
pelo poder. Ponto. É da mesma natureza a aliança PT-PMDB.
Eu seria capaz de apostar que, assim como FHC acabou entrando
em confronto com Antonio Carlos
Magalhães, a mais estridente liderança pefelista, sem que a governabilidade tivesse sido minimamente
afetada, Lula também poderia ter se
omitido no caso Sarney -e não
aconteceria rigorosamente nada
com a governabilidade.
Sejamos francos: não há nenhum
tipo de lealdade na política brasileira, nem programática, nem partidária, nem mesmo pessoal. A lealdade
é com o poder. Ponto.
Basta lembrar que Renan Calheiros (PMDB) foi forçado a renunciar
à Presidência do Senado sem que se
rompesse a aliança do partido com
o poder de turno.
O PMDB só se mexeria de fato se
Lula (ou FHC antes dele, seja com o
PFL, seja com o próprio PMDB) começasse a tirar as "boquinhas" cedidas ao partido.
Aí, sim, haveria uma verdadeira
ameaça ao único programa do
PMDB, que é o poder, a maior cota
possível dele.
crossi@uol.com.br
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