|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARLOS HEITOR CONY
Dez assuntos
RIO DE JANEIRO - 1) Políticos de
todos os partidos pretendem aprimorar o regime, o que é salutar para
os políticos e para o regime. Com o
regime aprimorado, teremos horizontes menos sombrios e é possível
que até o Senado deixe de ser
tão trágico.
2) Agora, o que é trágico não é o
tango, é a cara do argentino ouvindo o tango. Há tempos vi um velhinho chorando naquela rua da Boca
onde foi colocada uma placa com os
versos de "Caminito" ("Caminito
que el tiempo ha borrado..."). O velhinho chorava lembrando tempos
passados e noites de lua borradas
-a Lua inspira tangos e tangentes.
3) Tangente de tango é tanga -eis
a frase que o professor Higgins devia ensinar a Elisa Doolitle naquela
cena de "My Fair Lady". Tangente
de tango é tanga funcionaria mais
fácil do que o "Rei de Roma ruma a
Madri".
4) Barão assinalado que se preze
deve ter um cão e uma mulher infiel
para justificar o final de um drama.
O barão surpreende a mulher prevaricando com o duque e diz, pensando no cão: "Não passas de uma
vil cadela, oh!".
5) Oh!
6) E imaginemos, antes do fim, o
próprio fim. Que faria antes do fim?
Rezaria pedindo perdão para os
meus pecados? Continuaria a fazer
o que estava fazendo, como recomendam os ascetas? Acho que berraria animalescamente no meio de
outros que berrariam mais alto.
Mas eu gritaria mais fundo e longamente, na verdade já estou gritando
há muito e aos poucos me habituando ao grito e ao fim.
7) Pelo amor de Deus, a frase "Navegar é preciso" não é de Fernando
Pessoa nem de Caetano Veloso. É
de Pompeu, que perdeu para César,
em Farsália.
8) Vim, não vi e não venci.
9) O duque citado aí em cima não
tem nada a ver com o Paulo Duque.
10) Novamente, e com razão
maior e final: "Oh!".
Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: O jeito PT de governar Próximo Texto: Marcos nobre: A volta do militarismo Índice
|