São Paulo, terça-feira, 25 de agosto de 2009

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TENDÊNCIAS/DEBATES


Os desafios da sustentabilidade para o Brasil

RICARDO YOUNG


Não é mais tempo de perguntar "se" é necessária uma economia verde, inclusiva e ética. A questão agora é "como" adotá-la


V IVEMOS UM momento único no Brasil, em que as evidências das mudanças climáticas e seus efeitos sobre a vida no país começam a ganhar mais destaque do que a própria crise financeira.
A sociedade civil tem se organizado para propor uma agenda nacional diferente daquela que vem sendo discutida oficialmente pelas entidades associativas e pelos partidos políticos, entre outros.
Trata-se de movimentos que buscam pôr o Brasil na trilha do crescimento econômico com equilíbrio ambiental e justiça social, o tripé da sustentabilidade. Porém, as iniciativas são fragmentadas e precisam convergir para uma mesma agenda nacional.
Atores representativos da sociedade estão hoje reunidos para assumir compromissos de redução de emissões de CO2 e com sugestões ao governo brasileiro para a COP-15, a reunião mundial do clima que vai se realizar em Copenhague, no final do ano.
Engajados em trazer a sustentabilidade para plano principal do debate, ainda não conseguem constituir um todo orgânico que impulsione a cidadania a um avanço de consciência significativo em relação ao desenvolvimento sustentável. Falta uma força catalisadora que congregue essa e outras iniciativas futuras sob uma mesma égide.
Essa força é a expressão da sociedade organizada que pode adquirir múltiplas formas. Seja qual for, é inevitável que coloquemos a sustentabilidade no centro da agenda política.
Não estamos mais no tempo de perguntar "se" é necessária uma economia verde, inclusiva e ética. É tempo de perguntar "como" adotá-la. Estamos falando de uma "nova" economia, de baixo carbono, que recupera, reúsa e recicla incontáveis vezes os seus recursos e insumos.
Não será uma economia "de" mercado, mas "com" mercado, na qual o consumo, consciente, será uma vertente, porém não a "razão de ser" dos negócios. A sociedade dela decorrente também terá outros valores e outras expectativas.
Assim sendo, qual o papel dos diversos agentes nessa economia? Qual cidadania emergirá desse processo?
Qual o papel do Estado? A função da iniciativa privada?
Essas são, na verdade, algumas perguntinhas incômodas a que precisaremos responder para definir qual país queremos: um país que cresce por crescer ou um país que se desenvolve para prover uma vida digna no presente e garantir o futuro das próximas gerações?
O governo brasileiro está avançando numa proposta de metas de redução dos gases-estufa até 2020, para apresentar na reunião do clima em Copenhague, no final do ano.
Se realmente conseguirmos adotar metas, vamos de fato assumir o protagonismo que devemos ter na construção do desenvolvimento sustentável em nível mundial.
E é isso o que demandam as diversas iniciativas sobre sustentabilidade existentes: que o país deixe de navegar na mesmice e assuma sua responsabilidade em ser parte importante na solução do dilema de civilização em que se encontra a humanidade.
Esta, então, é a hora das empresas socialmente responsáveis. É preciso atingir dois objetivos, um imediato e outro de médio e longo prazo.
O objetivo imediato é reunir todas as forças sociais para influenciar a posição brasileira em Copenhague. O país precisa liderar o movimento em favor do estabelecimento de metas globais de redução de emissões e de apoio ao mecanismo de redução de emissões por desmatamento e degradação (REDD).
O objetivo de médio e longo prazo é constituir um Fórum Nacional de Sustentabilidade, apolítico, suprapartidário, para forjar um programa/agenda com objetivos mínimos e planos de ação capazes de influenciar poderosamente o debate eleitoral do ano que vem.
Precisamos lembrar que é bem grande a possibilidade de quem se eleger em 2010 chegar até 2018. Portanto, terá sob sua responsabilidade a agenda de 2020, que deverá estabelecer as bases de uma nova economia verde, inclusiva e responsável.
A sociedade civil brasileira, que já superou grandes obstáculos para consolidar a democracia, vai precisar de sua melhor visão inovadora e de seu mais concentrado esforço de engajamento para superar diferenças, derrubar muros e erguer pontes rumo à sustentabilidade.


RICARDO YOUNG , 52, é presidente do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social.


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