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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Mão na massa
SÃO PAULO - Michel Temer tem o
hábito de esfregar as mãozinhas.
Enquanto fala, além de gesticular,
como muita gente, ele costuma
passar a palma de uma das mãos
nas costas da outra, em movimentos lentos, cadenciados, escorregadios. Sua comunicação manual talvez chame muito a atenção porque,
com a boca, Temer não diz muita
coisa. É formal, anódino, evasivo.
Ontem, no debate Folha/UOL
entre os vices, o presidente da Câmara a certa altura abusou da altivez: "No próximo governo, é possível que o PMDB não tenha nenhum
cargo, e mesmo assim nós vamos
colaborar". Isso nem seria justo.
Mas enquanto a boca de Temer vendia desapego, as mãos faziam a sua
ginástica, numa espécie de aquecimento para as oportunidades que
se abrem com a vitória de Dilma.
Não faz muito, num almoço em
Brasília, Temer saudou ministros e
senadores à mesa: "Estamos aqui
partilhando este pão, assim como
partilhamos este governo e estaremos no futuro partilhando o governo com a presidente Dilma". Aqui,
sim, as mãos e as palavras pareciam trabalhar em maior harmonia.
Temer tem a sorte de ser confrontado com alguém como Índio da
Costa. O vice de José Serra transforma o peemedebista num estadista.
No debate, Índio disse coisas do
tipo: "Ninguém me procura para ir
a reuniões com as Farc. Até porque,
se as Farc me chamarem para uma
reunião, vou com a Polícia Federal
e prendo todo mundo". É até divertido vê-lo, bem ensaiado, cheio de
energia, brincando de forte-apache
para salvar a democracia. Índio folcloriza um cargo que para o PMDB
de Temer parece sério demais. Não
custa acender uma vela para que
sejam eternamente só isso -vices.
Para registro: a partir de 1946, na
história do Brasil democrático (excetuando-se o período do regime
militar), para cada dois presidentes
eleitos, o país teve um vice que assumiu a Presidência. Foram quatro: Café Filho (1954-55), João Goulart (1961-64), José Sarney (1985-90)
e Itamar Franco (1992-94).
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