São Paulo, quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FERNANDO DE BARROS E SILVA

Mão na massa

SÃO PAULO - Michel Temer tem o hábito de esfregar as mãozinhas. Enquanto fala, além de gesticular, como muita gente, ele costuma passar a palma de uma das mãos nas costas da outra, em movimentos lentos, cadenciados, escorregadios. Sua comunicação manual talvez chame muito a atenção porque, com a boca, Temer não diz muita coisa. É formal, anódino, evasivo.
Ontem, no debate Folha/UOL entre os vices, o presidente da Câmara a certa altura abusou da altivez: "No próximo governo, é possível que o PMDB não tenha nenhum cargo, e mesmo assim nós vamos colaborar". Isso nem seria justo. Mas enquanto a boca de Temer vendia desapego, as mãos faziam a sua ginástica, numa espécie de aquecimento para as oportunidades que se abrem com a vitória de Dilma.
Não faz muito, num almoço em Brasília, Temer saudou ministros e senadores à mesa: "Estamos aqui partilhando este pão, assim como partilhamos este governo e estaremos no futuro partilhando o governo com a presidente Dilma". Aqui, sim, as mãos e as palavras pareciam trabalhar em maior harmonia.
Temer tem a sorte de ser confrontado com alguém como Índio da Costa. O vice de José Serra transforma o peemedebista num estadista.
No debate, Índio disse coisas do tipo: "Ninguém me procura para ir a reuniões com as Farc. Até porque, se as Farc me chamarem para uma reunião, vou com a Polícia Federal e prendo todo mundo". É até divertido vê-lo, bem ensaiado, cheio de energia, brincando de forte-apache para salvar a democracia. Índio folcloriza um cargo que para o PMDB de Temer parece sério demais. Não custa acender uma vela para que sejam eternamente só isso -vices.
Para registro: a partir de 1946, na história do Brasil democrático (excetuando-se o período do regime militar), para cada dois presidentes eleitos, o país teve um vice que assumiu a Presidência. Foram quatro: Café Filho (1954-55), João Goulart (1961-64), José Sarney (1985-90) e Itamar Franco (1992-94).


Texto Anterior: Editoriais: Risco para a infância

Próximo Texto: Brasília - Fernando Rodrigues: A obsolescência dos vices
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.