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São Paulo, quinta-feira, 25 de setembro de 2003

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A POLÍTICA COMO PRODUTO

Ao emitir nota a respeito das atividades do publicitário Duda Mendonça, após reportagens publicadas pela Folha no último domingo, a Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica da Presidência da República (Secom) apenas confirmou o que foi noticiado.
Ao ressaltar que serão respeitadas as "limitações e atribuições intrínsecas ao contrato", a Secom não nega que Mendonça terá participação ativa na formulação, unificação e implantação da estratégia de comunicação governamental.
Como havia declarado à Folha o ministro Luiz Gushiken, o responsável pelo marketing do PT trabalhará -"na ausência de um termo mais adequado"- como uma espécie de "consultor especial" da secretaria. O fato de que ao próprio ministro tenha escapado o "termo adequado" para definir a função sugere que mesmo para as autoridades governamentais o status do publicitário é de difícil classificação.
No limite, Mendonça não estaria numa posição muito diferente da de um consultor privado cuja empresa fosse contratada para definir a estratégia econômica do governo. Como deveria ser denominado esse imaginário servidor?
Num mundo onde reinam a imagem e a mercadoria, a transformação da política em "produto" já é um fato bastante corriqueiro, ao qual também aderiu o PT. Talvez fascinado pelo êxito do marketing político utilizado durante a campanha eleitoral, o Planalto agora inclina-se a dispensar ao conjunto das ações de governo o mesmo tipo de tratamento mercadológico.
A questão não é exatamente nova. O papel de Mendonça no atual governo pode não ser o mesmo, mas assemelha-se bastante ao do publicitário Nizan Guanaes na administração anterior. As questões que esses casos suscitam não dizem respeito unicamente à eventual legalidade do vínculo contratual. Há implicações éticas e riscos potenciais embutidos nessa situação.


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