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A POLÍTICA COMO PRODUTO
Ao emitir nota a respeito das
atividades do publicitário Duda
Mendonça, após reportagens publicadas pela Folha no último domingo, a Secretaria de Comunicação de
Governo e Gestão Estratégica da Presidência da República (Secom) apenas confirmou o que foi noticiado.
Ao ressaltar que serão respeitadas
as "limitações e atribuições intrínsecas ao contrato", a Secom não nega
que Mendonça terá participação ativa na formulação, unificação e implantação da estratégia de comunicação governamental.
Como havia declarado à Folha o
ministro Luiz Gushiken, o responsável pelo marketing do PT trabalhará
-"na ausência de um termo mais
adequado"- como uma espécie de
"consultor especial" da secretaria. O
fato de que ao próprio ministro tenha escapado o "termo adequado"
para definir a função sugere que
mesmo para as autoridades governamentais o status do publicitário é de
difícil classificação.
No limite, Mendonça não estaria
numa posição muito diferente da de
um consultor privado cuja empresa
fosse contratada para definir a estratégia econômica do governo. Como
deveria ser denominado esse imaginário servidor?
Num mundo onde reinam a imagem e a mercadoria, a transformação da política em "produto" já é um
fato bastante corriqueiro, ao qual
também aderiu o PT. Talvez fascinado pelo êxito do marketing político
utilizado durante a campanha eleitoral, o Planalto agora inclina-se a dispensar ao conjunto das ações de governo o mesmo tipo de tratamento
mercadológico.
A questão não é exatamente nova.
O papel de Mendonça no atual governo pode não ser o mesmo, mas
assemelha-se bastante ao do publicitário Nizan Guanaes na administração anterior. As questões que esses
casos suscitam não dizem respeito
unicamente à eventual legalidade do
vínculo contratual. Há implicações
éticas e riscos potenciais embutidos
nessa situação.
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