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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Juros estratosféricos
e graves conseqüências
O setor da agropecuária teve um
extraordinário desempenho nos
últimos anos e foi responsável por
grande parte do nosso sucesso nas exportações e no combate à inflação.
A safra de 2005/2006, entretanto, é
motivo de preocupação. O problema
mais grave está na área do câmbio. A
maioria dos produtos brasileiros tem
seu preço atrelado ao dólar, o que significa dizer que, dependendo do valor
daquela moeda, as cotações podem
subir ou descer.
Nos últimos meses, o agricultor tem
conseguido cada vez menos reais pelos produtos que exporta em dólar. Isso constitui um sério desestímulo, que
está levando os especialistas a estimar
uma redução da área plantada e a própria produtividade das culturas de exportação para a próxima safra.
No ano passado, a agricultura brasileira sofreu muito com a seca que
ocorreu no sul do país. A safra do setor
de grãos teve uma redução expressiva
no faturamento nominal em relação a
2004. Além da seca, conspirou contra
a safra a queda dos preços das "commodities" no mercado internacional.
Neste ano, o câmbio agravou ainda
mais a situação dos produtores. Para
muitos deles, os recursos do crédito
agrícola servirão apenas para pagar as
dívidas acumuladas em 2004. Daí a
previsão preocupante.
É triste verificar que um quadro tão
melancólico atinja produtores eficientes e competitivos. Mais triste ainda é
registrar que isso decorre, em grande
parte, das taxas de juros estratosféricas que o Brasil vem praticando. A esperteza dos especuladores estrangeiros tem funcionado no sentido de injetar grandes quantidades de dólares
no mercado financeiro para se beneficiarem dos juros reais mais altos do
mundo.
A abundância desses dólares deprime a taxa de câmbio e coloca os briosos exportadores agrícolas em situação desesperadora. Fala-se em uma
forte redução do faturamento, o que
constitui um grave desestímulo ao
plantio e à modernização. A própria
compra de insumos e equipamentos
tenderá a cair como resultante do esfriamento do plantio. O secretário de
Política Agrícola do Ministério da
Agricultura, Ivan Wedekin, acredita
que cerca de 70% dos problemas que
afetam a produção da safra 2005/2006
decorrem da valorização excessiva do
real diante do dólar.
Isso não é para desanimar, pois, no
longo prazo, este país tem imensas
possibilidades de exportar muito. Mas
ninguém chega ao longo prazo se não
sobreviver no curto prazo. O ministro
da Agricultura, Roberto Rodrigues,
tem classificado a situação como dramática, preocupando-se, com razão,
com a sobrevivência dos produtores
para enfrentar o futuro imediato.
É verdade que a taxa de juros básicos
começou a cair. Mas, ao que tudo indica, as quedas futuras serão lentas. O
agricultor não pode adiar o plantio
nem postergar o pagamento das dívidas. E, na verdade, não deveria ser injustiçado por uma política monetária
unilateral que coloca em segundo plano a grande maioria de quem produz
e gera empregos. Isso precisa mudar
urgentemente.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
@ - antonio.ermirio@antonioermirio.com.br
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