São Paulo, domingo, 25 de setembro de 2005

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

Juros estratosféricos e graves conseqüências

O setor da agropecuária teve um extraordinário desempenho nos últimos anos e foi responsável por grande parte do nosso sucesso nas exportações e no combate à inflação.
A safra de 2005/2006, entretanto, é motivo de preocupação. O problema mais grave está na área do câmbio. A maioria dos produtos brasileiros tem seu preço atrelado ao dólar, o que significa dizer que, dependendo do valor daquela moeda, as cotações podem subir ou descer.
Nos últimos meses, o agricultor tem conseguido cada vez menos reais pelos produtos que exporta em dólar. Isso constitui um sério desestímulo, que está levando os especialistas a estimar uma redução da área plantada e a própria produtividade das culturas de exportação para a próxima safra.
No ano passado, a agricultura brasileira sofreu muito com a seca que ocorreu no sul do país. A safra do setor de grãos teve uma redução expressiva no faturamento nominal em relação a 2004. Além da seca, conspirou contra a safra a queda dos preços das "commodities" no mercado internacional.
Neste ano, o câmbio agravou ainda mais a situação dos produtores. Para muitos deles, os recursos do crédito agrícola servirão apenas para pagar as dívidas acumuladas em 2004. Daí a previsão preocupante.
É triste verificar que um quadro tão melancólico atinja produtores eficientes e competitivos. Mais triste ainda é registrar que isso decorre, em grande parte, das taxas de juros estratosféricas que o Brasil vem praticando. A esperteza dos especuladores estrangeiros tem funcionado no sentido de injetar grandes quantidades de dólares no mercado financeiro para se beneficiarem dos juros reais mais altos do mundo.
A abundância desses dólares deprime a taxa de câmbio e coloca os briosos exportadores agrícolas em situação desesperadora. Fala-se em uma forte redução do faturamento, o que constitui um grave desestímulo ao plantio e à modernização. A própria compra de insumos e equipamentos tenderá a cair como resultante do esfriamento do plantio. O secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Ivan Wedekin, acredita que cerca de 70% dos problemas que afetam a produção da safra 2005/2006 decorrem da valorização excessiva do real diante do dólar.
Isso não é para desanimar, pois, no longo prazo, este país tem imensas possibilidades de exportar muito. Mas ninguém chega ao longo prazo se não sobreviver no curto prazo. O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, tem classificado a situação como dramática, preocupando-se, com razão, com a sobrevivência dos produtores para enfrentar o futuro imediato.
É verdade que a taxa de juros básicos começou a cair. Mas, ao que tudo indica, as quedas futuras serão lentas. O agricultor não pode adiar o plantio nem postergar o pagamento das dívidas. E, na verdade, não deveria ser injustiçado por uma política monetária unilateral que coloca em segundo plano a grande maioria de quem produz e gera empregos. Isso precisa mudar urgentemente.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
@ - antonio.ermirio@antonioermirio.com.br


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