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FERNANDO DE BARROS E SILVA
O ano que não terminou
SÃO PAULO - Desmascarado só
em 2005, o mensalão remete aos
primórdios do governo Lula. Foi
em 2003, o ano do desassombro,
que a máquina petista instalada no
poder perdeu o medo de ser feliz.
À sombra da popularidade de Lula, e preservada pela indulgência de
quase toda a mídia, a realpolitik do
PT orquestrada por José Dirceu
passou a operar a todo vapor no primeiro ano de mandato. Conhecemos hoje parte da lambança. Mas a
crônica pormenorizada de 2003,
antes de Waldomiro Diniz se tornar
quem é, ainda está por ser feita. Até
porque aquele ano não terminou.
O envolvimento de figuras centrais das campanhas de Lula e Mercadante na negociação e compra do
dossiê dos Vedoin denota um padrão de comportamento -não um
desvio. Bastou a perspectiva de vitória no primeiro turno para que a
vontade de desforra se traduzisse
em delinquência. Entende-se melhor agora o significado da eleição
de Berzoini no PT quando alguns
pregavam a "refundação".
O governo Lula está, de um lado,
enredado pelo gangsterismo sindical-partidário criado pelo PT; de
outro, seu eventual segundo mandato parece refém do caciquismo
corrupto do PMDB, que o presidente alimenta com leite de cabra.
Entre essas duas forças do atraso,
mas como quem se vê acima delas,
Lula reage como mártir às investidas finais da oposição. Radicaliza o
discurso na direção do messianismo, cria para si fantasias de onipotência, flerta a sério com sandices.
Mas não está só na sua regressão.
O "dossiêgate" deu, enfim, algum
sentido à campanha de Alckmin,
desde sempre um candidato do PFL
alojado no PSDB. O homem que
amassa barro se revelou um vazio
de idéias cercado de gente e referências da província -uma mistura
de Padre Marcelo e Mazzaropi.
Movida a ressentimentos, Heloísa Helena é uma não-alternativa de
poder. É bom que exista como candidata e ótimo que não tenha chances. E Cristovam Buarque errou:
tem plataforma de deputado federal. Sem querer, o TSE acertou ao
associar o eleitor a um avestruz.
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