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SERGIO COSTA
Flagrantes
RIO DE JANEIRO - Durante toda
a semana, as manchetes dos jornais
e dos on-lines ganharam uma rotatividade impressionante em torno
do mesmo assunto. A própria Folha mudou seu título principal num
mesmo dia, tal a velocidade dos fatos em relação ao "dossiêgate".
No mesmo período, um outro tema permaneceu congelado nos
cantinhos onde ficam os mais procurados na internet: o vídeo da Daniella Cicarelli com o namorado.
Sério concorrente na mídia às diatribes e aleivosias dos políticos.
O que os dois, digamos, escândalos têm em comum para despertar
tanta atenção? Jornalisticamente
se explica por conterem um dos ingredientes que formam as notícias:
o flagrante.
A modelo, o namorado e os petistas foram pegos literalmente no
ato. Quem nunca parou na rua para
ver batida de carro, corrida atrás de
ladrão ou beijo na boca que atire o
primeiro ovo. Da curiosidade que
matou o gato vive a imprensa.
Os dois assuntos podem ser colocados no mesmo balaio midiático,
porque monopolizaram a atenção
do público. A observação dos dois
flagrantes, com distanciamento crítico e sem falsos pudores, faz a balança da indecência pesar para o lado dos políticos. Só que o desejo incontido de dois jovens saudáveis registrado por um paparazzo tem sofrido mais intolerância do que a orgia de barrigudos com dinheiro sujo. Enquanto a maioria dos eleitores parece indiferente a malfeitorias nas barbas do poder, a garota
perde contratos e o rapaz tem o emprego ameaçado.
É pena. Daniella agarradinha ao
namorado, no doce balanço do mar,
expressa uma pureza que não se encontra no exibicionismo fútil das
celebridades nem na ética elástica e
mutante dos homens públicos. O
amor, mesmo na sua forma mais
crua, deveria ser sempre absolvido.
Já o despudor político...
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