São Paulo, segunda-feira, 25 de setembro de 2006

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SERGIO COSTA

Flagrantes

RIO DE JANEIRO - Durante toda a semana, as manchetes dos jornais e dos on-lines ganharam uma rotatividade impressionante em torno do mesmo assunto. A própria Folha mudou seu título principal num mesmo dia, tal a velocidade dos fatos em relação ao "dossiêgate".
No mesmo período, um outro tema permaneceu congelado nos cantinhos onde ficam os mais procurados na internet: o vídeo da Daniella Cicarelli com o namorado. Sério concorrente na mídia às diatribes e aleivosias dos políticos.
O que os dois, digamos, escândalos têm em comum para despertar tanta atenção? Jornalisticamente se explica por conterem um dos ingredientes que formam as notícias: o flagrante.
A modelo, o namorado e os petistas foram pegos literalmente no ato. Quem nunca parou na rua para ver batida de carro, corrida atrás de ladrão ou beijo na boca que atire o primeiro ovo. Da curiosidade que matou o gato vive a imprensa.
Os dois assuntos podem ser colocados no mesmo balaio midiático, porque monopolizaram a atenção do público. A observação dos dois flagrantes, com distanciamento crítico e sem falsos pudores, faz a balança da indecência pesar para o lado dos políticos. Só que o desejo incontido de dois jovens saudáveis registrado por um paparazzo tem sofrido mais intolerância do que a orgia de barrigudos com dinheiro sujo. Enquanto a maioria dos eleitores parece indiferente a malfeitorias nas barbas do poder, a garota perde contratos e o rapaz tem o emprego ameaçado.
É pena. Daniella agarradinha ao namorado, no doce balanço do mar, expressa uma pureza que não se encontra no exibicionismo fútil das celebridades nem na ética elástica e mutante dos homens públicos. O amor, mesmo na sua forma mais crua, deveria ser sempre absolvido. Já o despudor político...


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