São Paulo, quinta-feira, 25 de setembro de 2008

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PLÍNIO FRAGA

Comprar é um ato político

RIO DE JANEIRO - Diz o "Houaiss" que o capitão Charles C. Boycott (1832-1897), um rico proprietário irlandês, no outono de 1880, recusando-se a baixar o preço que cobrava pelo arrendamento de suas terras, foi vítima de represália, tendo os agricultores da época se articulado para não negociar com ele. Daí a palavra boicote.
Quase 130 anos depois, o termo em inglês "boycott" ganhou uma espécie de antônimo, o "buycott". Numa livre tradução seria a compra orientada de produtos.
Em visita ao Rio para participar de um seminário acadêmico, a pesquisadora Michele Micheletti, da Karlstad University, na Suécia, defendeu que o ato de consumo pode se transformar em ativismo político. Segundo ela, a falta de uma regulamentação global transferiu para os consumidores parte da responsabilidade sobre o mercado.
Por meio de "boycotts" e de "buycotts", cabe aos consumidores forçar mudanças no sistema produtivo e colaborar, utilizando o seu poder de compra, para atenuar problemas como a exploração da mão-de-obra, o desrespeito ambiental e os desvios éticos e políticos de grandes empresas.
O "buycott" é o consumidor politizado, informado, responsável. Micheletti cita estudos que mostram que, na Suécia, o percentual de cidadãos que se envolveram em algum tipo de "consumo politizado" nos 12 meses anteriores à pesquisa era de 50%. No Brasil, não chegava a 7%. À repórter Denise Menchen, desta Folha, a pesquisadora disse que o resultado está vinculado ao nível de informação e aos recursos disponíveis dos consumidores. "É um movimento basicamente da classe média."
Na próxima vez que alguém se queixar das horas que você passou no shopping, pode responder que estava fazendo política. Atualmente é possível comprar até ideologia.


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