São Paulo, quinta-feira, 25 de setembro de 2008

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SÉRGIO MALBERGIER

O preço do erro subiu

O PRESIDENTE Lula, como seus reputados colegas do Irã e da Argentina, aproveitou a reunião da ONU em Nova York para tirar lasca do anfitrião George W. Bush por causa do colapso do sistema financeiro americano como o conhecíamos.
Melhor seria tratarmos essa crise, que já cruzou o Atlântico Sul, com mais gravidade e nos prepararmos com eficiência para a retração global.
Será o primeiro grande teste econômico de Lula, que, por méritos seus e da conjuntura internacional, navegou até aqui por correntes econômicas muito favoráveis.
Mas o vento mudou. E erros terão um custo muito maior, potencializando a crise.
A roda do crédito global emperrou, mas a dívida pública aumenta junto com os gastos. E o Brasil segue dependente de capital externo para financiar sua dívida e suas exportações. O próprio governo já antevê dificuldades em manter o ritmo exportador e prevê aumento do déficit nas transações com o mundo.
A economia deve crescer perto de 5% neste ano, mas já se espera menos de 4% em 2009. No Orçamento enviado ao Congresso, o governo prevê expansão de 4,5%.
Mas deve vir menor, e já há economistas vendo dificuldades até para a manutenção da meta fiscal de economizar 4,3% do PIB antes do pagamento dos juros da dívida.
Enquanto isso, Lula segue elevando os gastos com o funcionalismo num ritmo muito maior que o do PIB, gastos que depois serão difíceis de cortar quando o ritmo da economia (e a arrecadação variável que sustenta gastos fixos) cair.
Com os aumentos gerais e irrestritos aos servidores públicos pré-colapso de Wall Street, os gastos com pessoal em 2009 serão os mais altos do governo Lula, perto de 5% do PIB. Um projeto de lei enviado ao Congresso no início de 2007 para limitar a expansão desse gasto em 1,5% ao ano acima da inflação empacou. A inflação deste ano deve ficar perto de 6%, mas o gasto com funcionalismo explode em mais de 10%.
Diante do enxugamento dramático do crédito global, o governo bate no peito e diz que o BNDES resolve a questão. Mas deveria ser mais prudente e jogar na retranca até a dimensão da crise financeira ficar mais clara. E o melhor caminho é conter os gastos.
Mas eles crescem de forma exuberante. Como disse Lula na ONU, ao atacar a condução econômica nos EUA, "a crise financeira, cujos presságios vinham se avolumando, é hoje dura realidade".
2009 será um ano-chave. O governo poderá ter de decidir entre cortar investimentos ou reduzir seu frágil rigor fiscal. São duas más opções, talvez inevitáveis.


SÉRGIO MALBERGIER é editor de Dinheiro . Hoje, excepcionalmente, não é publicada a coluna de Kenneth Maxwell.


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