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SÉRGIO MALBERGIER
O preço do erro subiu
O PRESIDENTE Lula, como
seus reputados colegas do
Irã e da Argentina, aproveitou a reunião da ONU em Nova
York para tirar lasca do anfitrião
George W. Bush por causa do colapso do sistema financeiro americano como o conhecíamos.
Melhor seria tratarmos essa crise, que já cruzou o Atlântico Sul,
com mais gravidade e nos prepararmos com eficiência para a retração global.
Será o primeiro grande teste econômico de Lula, que, por méritos
seus e da conjuntura internacional,
navegou até aqui por correntes
econômicas muito favoráveis.
Mas o vento mudou. E erros terão um custo muito maior, potencializando a crise.
A roda do crédito global emperrou, mas a dívida pública aumenta
junto com os gastos. E o Brasil segue dependente de capital externo
para financiar sua dívida e suas exportações. O próprio governo já antevê dificuldades em manter o
ritmo exportador e prevê aumento
do déficit nas transações com o
mundo.
A economia deve crescer perto
de 5% neste ano, mas já se espera
menos de 4% em 2009. No Orçamento enviado ao Congresso, o governo prevê expansão de 4,5%.
Mas deve vir menor, e já há economistas vendo dificuldades até para
a manutenção da meta fiscal de
economizar 4,3% do PIB antes do
pagamento dos juros da dívida.
Enquanto isso, Lula segue elevando os gastos com o funcionalismo num ritmo muito maior que o
do PIB, gastos que depois serão difíceis de cortar quando o ritmo da
economia (e a arrecadação variável
que sustenta gastos fixos) cair.
Com os aumentos gerais e irrestritos aos servidores públicos pré-colapso de Wall Street, os gastos
com pessoal em 2009 serão os mais
altos do governo Lula, perto de 5%
do PIB. Um projeto de lei enviado
ao Congresso no início de 2007 para limitar a expansão desse gasto
em 1,5% ao ano acima da inflação
empacou. A inflação deste ano deve
ficar perto de 6%, mas o gasto com
funcionalismo explode em mais de
10%.
Diante do enxugamento dramático do crédito global, o governo
bate no peito e diz que o BNDES resolve a questão. Mas deveria ser
mais prudente e jogar na retranca
até a dimensão da crise financeira
ficar mais clara. E o melhor caminho é conter os gastos.
Mas eles crescem de forma exuberante. Como disse Lula na ONU,
ao atacar a condução econômica
nos EUA, "a crise financeira, cujos
presságios vinham se avolumando,
é hoje dura realidade".
2009 será um ano-chave. O governo poderá ter de decidir entre
cortar investimentos ou reduzir
seu frágil rigor fiscal. São duas más
opções, talvez inevitáveis.
SÉRGIO MALBERGIER é editor de Dinheiro . Hoje, excepcionalmente, não é publicada a coluna de Kenneth Maxwell.
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