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JOSÉ SARNEY
A batalha
do campo
O BRASIL vive momentos importantes em muitas áreas.
Há uma em que perdemos a
batalha. Não é uma metáfora, mas a
expressão correta e real: o mundo
da violência nas periferias das
grandes cidades, que estão entregues ao crime organizado e ao narcotráfico. Esse mundo é formado
pelos mais pobres dentre os pobres
e sobretudo os egressos do campo,
expulsos pela falta de condições de
sobreviver, sem condições de trabalho e sem terra. Estas populações são marginalizadas de forma
dramática e tornam-se um contingente crônico de informalidade laboral, alimentando o submundo de
uma guerra de alto risco de explosão social, constituindo bolsões
onde o Estado exerce precariamente sua autoridade. Lamentavelmente é uma guerra perdida.
O Brasil não foi capaz de realizar
uma reforma e desenvolvimento
agrário modernizante. As causas
são antigas e intransponíveis, desde o latifúndio devorante -como
dizia Aluísio Medeiros em seu poema célebre- até a incapacidade governamental de encontrar fórmulas de garantir a existência e consolidação de pequenos produtores
rurais independentes.
Criei o Ministério da Reforma
Agrária, nome maldito àquela época, para enfrentar o problema de
frente. O nome do ministério no
organograma elaborado para Tancredo Neves era "de Assuntos Fundiários". Eu tentei criar uma estrutura capaz de dar solução ao problema. Duas forças estavam se organizando e uniram-se numa visão
radical contra o nosso plano: o
MST e a Pastoral da Terra. Eu não
tinha força política nem coesão no
governo para responder à gravidade do problema.
Disse àquele tempo: "Não me
canso de repetir que não podemos
ser felizes com milhões de brasileiros que vivem no campo, trabalhadores sem terra, posseiros e todas
as vítimas da violência e da exploração. Assegurar a propriedade da
terra é uma decisão política de uma
reparação multissecular que previne as necessidades do futuro". Cito
estas palavras para mostrar que
minha visão de agora não é circunstancial. Ela é uma consciência
de homem de Estado e de responsabilidade social.
Agora vejo que a solução que está
sendo escolhida é das comissões de
inquérito, de enfrentamento, de
criminalização dos movimentos
sociais, de demonização do MST.
Esse caminho é errado. Os excessos desses grupos devem ser combatidos, mas não se pode desconhecer que estamos a repetir no
campo o que se vê nas cidades. Os
marginalizados são seduzidos pela
guerrilha ou por atos de desespero,
passando pelo crime e pelo tráfico
de drogas. Veja-se alguns países da
América Latina. Se perdemos a
guerra nas cidades não vamos perdê-la no campo. É preciso evitar o
confronto e a falsa solução da demonização. Os movimentos sociais
ajudam a resolver o problema.
JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta coluna.
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