São Paulo, domingo, 25 de setembro de 2011

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JOSUÉ GOMES DA SILVA

Pré-sal: bilhete premiado

À parte das questões políticas que permeiam a distribuição de royalties do pré-sal, há prioridades das quais o país não pode abrir mão para capitalizar essa dádiva geológica.
Os recursos são gigantescos e sua aplicação deve ser responsável, olhando para o futuro. Uma oportunidade efetiva de melhorarmos a educação, investirmos na ciência e tecnologia, combatermos a miséria, garantirmos segurança e atendimento dignos à população na saúde pública.
Tais recursos também devem ser usados na formação de poupança, constituindo fundos que assegurem benefícios às gerações futuras.
Muitos países detentores de reservas minerais riquíssimas não conseguiram sair do subdesenvolvimento ao explorá-las. Na verdade, poucos usaram seus recursos naturais de maneira inteligente e responsável e conseguiram saltar em direção ao desenvolvimento sustentável.
Os resultados do pré-sal são como um bilhete premiado da loteria. Muitos são os felizardos que, por falta de visão, dilapidam todo o prêmio deixando uma esteira de ruínas, em geral terminando em situação financeira pior do que antes da alegria inesperada. Poucos, entretanto, são os que conseguem transformar a bolada recebida em melhoria duradoura para suas famílias.
Qualquer que seja a distribuição dos royalties do pré-sal entre a União, os Estados e os municípios, a sociedade deve participar das decisões quanto à sua destinação.
Se forem mal gastos ou desperdiçados, seriam questionáveis os investimentos vultosos na extração do petróleo, em um momento no qual a chamada economia do carbono está em xeque frente às exigências da sustentabilidade.
Se não formos prudentes e eficazes quanto à construção do amanhã, aproveitando inteligentemente esses recursos, estaremos expostos a riscos. Um dos maiores: a possibilidade de desindustrialização, que passou a ser conhecida nos meios acadêmicos como "doença holandesa".
O ingresso excessivo de moeda estrangeira causa a sobrevalorização cambial, prejudicando as vendas externas e estimulando a importação de produtos industrializados. O termo refere-se à exportação de hidrocarbonetos pela Holanda nos anos 60, que derrubou a manufatura no país.
A descoberta e a exploração da "província do pré-sal" são excepcionais conquistas de nossa engenharia. Aproveitá-las e acelerar a marcha rumo ao desenvolvimento é possível.
Não podemos dar um passo atrás e sermos meros exportadores de matéria-prima, submetidos às imposições dos detentores de conhecimento e tecnologia. Não podemos desperdiçar estes recursos construindo "fontes luminosas". Nosso petróleo, que é finito, só tem sentido se for agente do desenvolvimento infinito.

JOSUÉ GOMES DA SILVA escreve aos domingos nesta coluna.


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