São Paulo, sexta-feira, 25 de outubro de 2002

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ELIANE CANTANHÊDE

Túnel do tempo

BRASÍLIA - Anos de eleição são épocas de tensão, paixão, emoção, sangue quente, polarização, agressões e injustiças, mas tudo tem limite. A invasão do jornal "Correio Braziliense", determinada pela Justiça Eleitoral para atender a interesses do governador e candidato Joaquim Roriz, extrapola qualquer limite. Na ditadura, oficiais militares se travestiam de censores e se aboletavam dentro das redações para determinar o que podia ser publicado e o que tinha de ser literalmente cortado dos jornais -leia-se: dos leitores. Na democracia, o desembargador Jirair Meguerian, do TRE, mandou um oficial de Justiça repetir o papel de memória tão nauseante a partir de mera suposição: a de que o "Correio" poderia, quem sabe, talvez, publicar matéria proibida pela Justiça. A proibição em si já é questionável, porque se trata de transcrição de fita gravada legalmente pela Polícia Federal, com autorização judicial. Mandar invadir a redação para saber se ela seria cumprida já é perseguição política. Até porque o jornal não iria mesmo publicar. Outros jornais, rádios, televisões e revistas têm a cópia da mesma fita, em que Roriz bate papos esquisitos com os principais acusados de grilagem no DF, os tais "irmãos Passos", gente da pesada. Imagine você se o desembargador resolve sair invadindo todas as redações?! Iria ser uma noite das bruxas, bem ao gosto da ditadura ou do governo Collor, que retaliou a posição crítica da Folha mandando invadir a sede do jornal. A expressão "terrorismo eleitoral" não parecia muito clara, restrita à mera troca de acusações entre adversários. Agora, o juiz, o TRE e Roriz dão um sentido inquestionável a ela. A jornais não cabe fazer campanha a favor ou contra candidatos, partidos e governos. Se nem a eles cabe, que são empresas privadas, o que dizer de desembargadores e tribunais?
 

Uma curiosidade: o que pensa o procurador Luiz Francisco sobre o imbróglio entre o PT e o Ministério Público Federal no Amapá?


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