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FERNANDO RODRIGUES
Serra entra em campo
BRASÍLIA - O tucano José Serra
continua usando a expressão "se eu
vier a ser candidato", mas ontem falou como se já estivesse em campanha pelo Planalto. Analisou pesquisas, criticou adversários e tentou
construir um curioso raciocínio sobre a eleição de 2010 e o crescimento econômico.
"Economia não decide eleição",
declarou Serra ao conceder longa
entrevista à rádio Jovem Pan. É
uma inversão da teoria popularizada pelo norte-americano James
Carville, marqueteiro de Bill Clinton nos anos 90 -a famosa frase "é
a economia, estúpido".
No novo figurino de quase candidato a presidente, Serra até usou
uma metáfora. A alegoria poderia
ter saído da boca de Lula. Se a economia está em boas condições, afirmou o tucano, a eleição de 2010 será como decidir sobre a substituição do motorista de um ônibus que
está andando bem. O eleitor escolherá quem estará mais apto a continuar a conduzir o ônibus.
Mais adiante, Serra defendeu o
direito de FHC criticar Lula. Perguntou por que só alguns ex-presidentes poderiam falar, como José
Sarney e Fernando Collor, ambos
pró-PT. Ofereceu então uma provocação: "Se você pudesse votar no
passado [num ex-presidente], você
votaria em quem? Fernando Henrique, Collor ou Sarney?".
Para arrematar suas alfinetadas,
o governador paulista desdenhou o
encontro entre Aécio Neves e Ciro
Gomes -este, o maior produtor de
diatribes anti-Serra da política brasileira. A possível e anunciada joint-venture Aécio-Ciro não teria "consequência nenhuma", até porque
"[Ciro] não vai fazer nada que o Lula não queira".
Tudo considerado, Serra entrou
em campo. Mas sua teoria de a economia não decidir eleição soa exótica, para dizer o mínimo. Só se explica pela necessidade de o tucano
tentar calibrar o discurso pré-eleitoral. Por enquanto, como fica óbvio para quem escuta, ele está na fase de tentativa e erro.
frodriguesbsb@uol.com.br
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