|
Próximo Texto | Índice
Do "Cansei" à CPMF
Com a vitória obtida no
Senado, a oposição ganha
capital político; resta
saber quais serão seus
próximos passos em 2008
ESTAGNADA pela falta de
propostas e mensagens,
além de surpreendida pelo acúmulo de boas notícias que o governo Lula pode ostentar nas áreas econômica e social, a oposição ganha alento neste final de ano com a rejeição da
CPMF no Senado.
Quaisquer que tenham sido os
motivos particulares dos que decidiram votar contra o governo
no episódio -e a pureza de princípios não é o que predomina
nessas ocasiões-, tucanos e ex-pefelistas colhem os frutos, sem
dúvida, da firmeza com que resistiram às pressões do Executivo e dos seus próprios correligionários nos governos estaduais.
É difícil, sem dúvida, saber o
que será feito desse capital político a partir de agora. Não cabe à
Folha sugerir linhas de conduta
a nenhuma das agremiações políticas em conflito; o jornal preserva ciosamente seu compromisso apartidário e pluralista.
Uma avaliação, contudo, dos
movimentos de oposição ao governo Lula nestes últimos tempos pode e deve ser feita. Dois aspectos centralizaram, em 2007,
as críticas da opinião pública ao
Executivo federal: a questão da
moralidade administrativa e a
sucessão de desacertos na condução da crise aérea. Em ambos,
faltou ao PSDB e ao DEM capacidade de articular um discurso
coerente de oposição.
Com o caso do valerioduto tucano, a credibilidade das críticas
à corrupção petista sofreu um
duro golpe; ninguém, de resto,
imagina que algum partido, da situação ou da oposição, possa oferecer um relato límpido de suas
finanças de campanha. Os esfarrapados protestos de inocência
foram substituídos, no caso da
confusão aeroportuária, pela falta de iniciativas e propostas, a
que não era estranha a atitude de
simplesmente esperar pelo pior.
Talvez nada tenha resumido
melhor o vazio de alternativas no
campo da oposição que o lema do
"Cansei". O justificado, mas vago, movimento de inconformismo significou apenas um desabafo espasmódico, incapaz de
abrir perspectivas reais de transformação política.
De todo modo, parece ter passado o tempo em que a preocupação de "sangrar" e "desconstruir" o atual governo era a única
estratégia da oposição. Certamente, a vitória no caso da
CPMF não constitui um divisor
de águas: foi ainda, e apenas, um
ato de rejeição aos interesses do
Planalto.
Estabeleceu-se, entretanto,
um canal de comunicação mais
desimpedido entre parcelas da
sociedade civil e o Legislativo.
Mais do que em torno de reclamações abstratas contra "tudo o
que está aí" (o PT de outros tempos guarda a patente desse gênero de discurso), a oposição conseguiu atuar com um foco mais
preciso e programático.
Não faltará, em 2008, uma extensa pauta de questões concretas em que governistas e oposição possam medir forças -e
mesmo chegar a algum tipo de
consenso; entre a adesão fisiológica e a "desconstrução" sistemática, há espaço, sem dúvida,
para um debate claro e permeável às pressões da opinião pública. É o que falta fazer.
Próximo Texto: Editoriais: A ressaca leve do álcool Índice
|