São Paulo, terça-feira, 25 de dezembro de 2007

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MARCOS NOBRE

Mapas e caminhos

VINTE ANOS se passaram desde o lançamento oficial da idéia de "desenvolvimento sustentável", consagrada cinco anos depois na Rio-92. É pouco tempo se se pensar nos impressionantes resultados que alcançou.
O ambiente se tornou assunto de primeira grandeza na agenda política internacional. A questão ambiental está presente na formulação e na implementação de políticas públicas em todos os níveis nos Estados nacionais e nos órgãos multilaterais. Mais e mais empresas privadas adotam códigos de conduta ambiental.
O mais interessante nisso tudo é que ninguém sabe ao certo o que é o desenvolvimento sustentável. E essa é a razão do sucesso: é uma idéia tão vaga que todo mundo pode ser a favor. É como se dizer pela paz e pela justiça social.
Quando se quer dizer o que é o desenvolvimento sustentável, dá-se um exemplo. Há ações específicas que se tornam padrões. É o caso, por exemplo, de processos de neutralização de carbono, em que empresas, governos e indivíduos compensam as emissões que geram com ações, como plantar novas árvores.
Os problemas começam quando se discute concretamente propostas de política para além dos exemplos já consagrados. Foi o que aconteceu em Bali, na Conferência sobre Mudanças Climáticas. Como quer que se avalie o resultado, o problema tem nome: EUA.
A conferência se colocou como objetivo aprovar o que se chama de "road map" (mapa de estrada). É uma negociação que negocia os termos de uma negociação futura. Foi uma estratégia imposta pelos EUA.
Os demais 186 países presentes sabem que não faz sentido negociar sem o endosso dos maiores poluidores do mundo. E os EUA impuseram a lógica do "road map" porque essa tem sido sua estratégia diplomática mais geral desde ao menos 2003. É uma estratégia que permite um bloqueio duradouro de uma negociação ao mesmo tempo em que mantém a aparência de continuar a tratar o tema com seriedade.
É dessa maneira que os EUA estão exercendo hoje seu poder de veto em nível mundial. Assim é na Rodada Doha, assim será na questão das mudanças climáticas. É uma estratégia defensiva, mas eficaz. A liderança mundial dos EUA está de fato sob ameaça pela primeira vez desde o fim da chamada Guerra Fria. No momento, ficar tudo como está é a melhor maneira de os EUA manterem sua posição hegemônica.
Costuma-se dizer que, quando alguém não quer resolver um problema, cria uma comissão. Os EUA inventaram comissões desse tipo na esfera global: quando não se quer chegar a lugar nenhum, cria-se um "road map".


MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta coluna.


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