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MARCOS NOBRE
Mapas e caminhos
VINTE ANOS se passaram
desde o lançamento oficial
da idéia de "desenvolvimento sustentável", consagrada cinco
anos depois na Rio-92. É pouco
tempo se se pensar nos impressionantes resultados que alcançou.
O ambiente se tornou assunto de
primeira grandeza na agenda política internacional. A questão ambiental está presente na formulação e na implementação de políticas públicas em todos os níveis nos
Estados nacionais e nos órgãos
multilaterais. Mais e mais empresas privadas adotam códigos de
conduta ambiental.
O mais interessante nisso tudo é
que ninguém sabe ao certo o que é
o desenvolvimento sustentável. E
essa é a razão do sucesso: é uma
idéia tão vaga que todo mundo pode ser a favor. É como se dizer pela
paz e pela justiça social.
Quando se quer dizer o que é o
desenvolvimento sustentável, dá-se um exemplo. Há ações específicas que se tornam padrões. É o caso, por exemplo, de processos de
neutralização de carbono, em que
empresas, governos e indivíduos
compensam as emissões que geram com ações, como plantar novas árvores.
Os problemas começam quando
se discute concretamente propostas de política para além dos exemplos já consagrados. Foi o que
aconteceu em Bali, na Conferência
sobre Mudanças Climáticas. Como
quer que se avalie o resultado, o
problema tem nome: EUA.
A conferência se colocou como
objetivo aprovar o que se chama de
"road map" (mapa de estrada). É
uma negociação que negocia os termos de uma negociação futura. Foi
uma estratégia imposta pelos EUA.
Os demais 186 países presentes sabem que não faz sentido negociar
sem o endosso dos maiores poluidores do mundo.
E os EUA impuseram a lógica do
"road map" porque essa tem sido
sua estratégia diplomática mais geral desde ao menos 2003. É uma
estratégia que permite um bloqueio duradouro de uma negociação ao mesmo tempo em que mantém a aparência de continuar a tratar o tema com seriedade.
É dessa maneira que os EUA estão exercendo hoje seu poder de
veto em nível mundial. Assim é na
Rodada Doha, assim será na questão das mudanças climáticas. É
uma estratégia defensiva, mas eficaz. A liderança mundial dos EUA
está de fato sob ameaça pela primeira vez desde o fim da chamada
Guerra Fria. No momento, ficar tudo como está é a melhor maneira
de os EUA manterem sua posição
hegemônica.
Costuma-se dizer que, quando
alguém não quer resolver um problema, cria uma comissão. Os EUA
inventaram comissões desse tipo
na esfera global: quando não se
quer chegar a lugar nenhum, cria-se um "road map".
MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta
coluna.
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