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Retrato americano
O Censo de 2010 nos Estados
Unidos, como todo levantamento
demográfico do gênero, capta
transformações de período longo
em geral imperceptíveis para o alcance limitado da observação jornalística ou sociológica. Algumas
delas se mostram intrigantes.
É o caso da queda abrupta da taxa de crescimento populacional,
de 13,2% nos anos 1990 para 9,7%
na década que ora se encerra. É a
segunda menor já registrada, perdendo apenas para os 7,3% do período 1930-1940.
Ao contrário de vários países
desenvolvidos, nos EUA a população não para de crescer (alcançou
308,7 milhões). A fertilidade, contudo, cai em vários Estados, aproximando-se do nível em que deixa
de repor a perda de população por
mortalidade, como já ocorre em
muitas partes da Europa.
Na média, a taxa de natalidade
está em 14 nascimentos por mil
habitantes, contra 16 por mil na
década anterior. No entanto, o recuo termina compensado pela
imigração, que respondia por dois
terços do crescimento nos anos
1990. Agora, com o novo Censo,
constata-se que essa participação
se reduziu a 40% do aumento.
Nos dois casos, a tendência parece associada à crise econômica
de 2008. Como na década de 1930,
após a crise de 1929, e na de 1980,
em menor escala, as famílias
adiam planos de ter filhos. Um
país em dificuldades econômicas
se torna menos atraente para estrangeiros, mais ainda quando endurece regras de imigração por razões de segurança.
O crescimento de 9,7% não se
distribui de maneira uniforme pelos 50 Estados americanos. Grosso
modo, a população do nordeste
dos EUA, de ocupação mais antiga, progrediu mais lentamente, na
faixa de 5%. Tendência oposta se
observou em Estados do Sul, como Texas, Geórgia e Flórida, e do
Oeste, como Utah, Arizona e Nevada, com taxas em torno de 20%.
Se os cálculos se confirmarem,
o Texas poderá ganhar quatro assentos, e Nova York, perder dois
na Câmara de Representantes. De
um modo geral, ganharão cadeiras Estados em que os republicanos são bem votados e perderão
aqueles em que os democratas
costumam sair-se melhor.
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