São Paulo, sábado, 25 de dezembro de 2010

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RUY CASTRO

Papai Noel sob mira

RIO DE JANEIRO - A cena se passa em São Luís do Maranhão, por volta de 1890. Ao fim da ceia de Natal, os parentes e convidados de uma família se reúnem na sala para trocar presentes, cantar hinos e dar umas cachimbadas. Ao longe, bimbalham sinos. De repente, um homem gordo, de barbas brancas, roupa e gorro vermelho com barras também brancas, botas e cinto pretos e um grande saco às costas irrompe sem aviso pela janela.
Pânico, pavor, palpitações. Num átimo, os homens se põem de pé, sacam os trabucos e os apontam para o intruso, rendendo-o num canto da sala. Mas uma das mulheres se põe corajosamente entre ele e as armas, dizendo: "Não o matem! É o Papai Noel! Eu o contratei!".
A mulher é a jovem professora Maria Barbara de Andrade, dona de um colégio local e filha de nada menos que o discutido poeta maranhense Sousândrade -Joaquim de Sousa Andrade-, autor de "O Inferno de Wall Street". Com o Papai Noel sob mira, Maria Barbara explica que, tendo sido criada em Nova York, quando seu pai foi morar lá, em 1871, habituara-se a ver o velhinho na versão do ilustrador e caricaturista Thomas Nast, no tabloide "Harper's Weekly".
Até 1863, Papai Noel era alto, magro, ranzinza e se vestia de bispo católico. Nast, que era rechonchudo e anticlerical, redesenhou-o à sua imagem e acrescentou-lhe a roupa vermelha e o bom humor. Daquele ano até 1890, inundou "Harper's" e outras publicações com seu simpático Papai Noel e fixou aquela imagem no coração de milhares de crianças dos EUA, inclusive a brasileira Maria Barbara.
Os homens abaixam as armas, abraçam o Papai Noel e lhe servem vinho. Donde Maria Barbara pode ter sido a introdutora do moderno Papai Noel no Brasil. Mas sua façanha nunca ficou estabelecida, e é natural que, 120 anos depois, muita gente acredite sinceramente que quem fez isso foi a Coca-Cola.


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