São Paulo, domingo, 26 de janeiro de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES De Porto Alegre a Davos
MARCO AURÉLIO GARCIA
Em Davos, falará para uma platéia composta por homens que têm enorme poder de decisão sobre os destinos da economia mundial. Mas, diferentemente do ocorrido alguns anos atrás, esses empresários não têm muito a celebrar. O modelo que propugnaram para os países emergentes, principalmente para a América Latina, fracassou. Os ícones de Davos no continente -Collor, Salinas, Fujimori e tantos outros- foram varridos da política e transferidos para as páginas policiais do noticiário jornalístico. Davos reúne hoje as perplexidades de um mundo ameaçado pela recessão e por uma insensata guerra, com consequências nefastas para o conjunto da economia mundial, inclusive -e sobretudo- para nossos planos de reconstrução do país. Em um fórum que anuncia reunir-se sob o signo da "confiança", Lula denunciará a desconfiança dos especuladores, que, com seus ataques contra moedas nacionais ou com absurdas elevações de suas "taxas de risco", terminam por minar o esforço de construção econômica de todo um povo. Como presidente de um povo que dá extraordinárias manifestações de confiança em si mesmo, Lula exporá as idéias centrais de seu "modelo", centrado no enfrentamento das questões sociais -fome, analfabetismo, crise da saúde e da habitação, entre tantas outras marcas da exclusão. Essa prioridade dada às questões sociais não deve ser entendida exclusivamente, nem essencialmente, como desencadeamento de ações emergenciais de enfrentamento da miséria e da pobreza, ainda que medidas compensatórias se imponham. A escolha do social como elemento estruturante da nova economia reflete a preocupação de dar início a um ciclo virtuoso de desenvolvimento que retome as altas taxas de crescimento de décadas atrás sem reproduzir a concentração de renda do passado, menos ainda a concentração de poder que alimentou o autoritarismo e/ou as ditaduras que nos assolaram. Lula dirá, em Davos, que, atualmente, um outro Brasil está sendo possível -a partir da decisão soberana do povo. Isso pode significar que, amanhã, um outro mundo seja possível, como vêm repetindo aqueles que se reúnem há três anos em Porto Alegre. Basta que a esperança possa vencer o medo. Marco Aurélio Garcia, 61, é assessor especial de Política Externa da Presidência da República e professor licenciado do departamento de história da Unicamp. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Luiz Carlos Bresser Pereira: Agenda nacional Índice |
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